Pesquisadores da Universidade de Genebra e do grupo de pesquisa multidisciplinar NCCR PlanetS, também sediado na Suíça, anunciaram a descoberta de um exoplaneta potencialmente habitável localizado a 19,7 anos-luz da Terra. A descoberta saiu no periódico Astronomy & Astrophysics.
Embora essa distância ainda seja intransponível com a tecnologia aeroespacial atual, ela é ínfima em comparação à maior parte dos outros destinos cósmicos. Por exemplo: Gliese 12 b, um outro humilde rochedo aparentemente apto a abrigar vida, fica a 40 anos-luz de nós.
O planeta recém-descoberto, batizado com o código pouco lisonjeiro HD 20794 d, têm uma órbita excêntrica — e não é no sentido Supla da coisa. Para os astrônomos, “excêntrico” é um termo técnico que indica que o trajeto do planeta ao redor de sua estrela é extramemente elíptico; oval.
Nosso amigo HD 20794 d se alterna entre momentos de grande aproximação da estrela (quando a superfície esquenta um bocado) e de grande afastamento (quando a coisa fica mais gelada que o coração da morena).
Existe uma unidade de medida chamada Unidade Astronômica (UA) que corresponde à distância entre a Terra e o Sol. A órbita de HD 20794 d atinge 0,75 UA no ponto mais próximo da estrela (a distância Vênus-Sol) e 2 UA no ponto mais distante (um pouco mais que a distância Marte-Sol).
Isso não acontece com a Terra, já que a órbita do nosso condomínio cósmico não é muito excêntrica. Embora todo planeta percorra um caminho elíptico, a nossa elipse é bem arredondada, quase um círculo. As estações do ano são culpa de outro fenômeno: a inclinação do eixo de rotação.
Essa estabilidade nos mantêm sempre dentro da zona habitável do Sol, a região nem-tão-próxima-nem-tão-distante onde faz um calorzinho ideal para haver água líquida e vida como a conhecemos.
O astro recém-descoberto, porém, entra e sai de sua zona habitável ao longo do ano, que dura mais de 600 dias. Isso significa que, caso haja água em sua superfície, ela se alterna entre o estado sólido e o líquido.
Ainda é impossível saber como, exatamente, a variação na órbita impacta o clima do planeta, já que tudo depende das características de sua atmosfera. Uma grande concentração de gases de efeito estufa, por exemplo, pode ajudar a reter calor e impedir que o frio se torne insuportável em dias mais marcianos.
A saga dos exoplanetas
A primeiro planeta localizado em outro sistema estelar foi descoberto em 1995 por dois pesquisadores da própria Universidade de Genebra, Michel Mayor e Didier Queloz, que ganharam o Nobel de Física de 2019. Ou seja: a instituição tem tradição na área. Desde então, mais de 7 mil deles foram catalagados.
O problema é que extremamente difícil obter informações detalhadas sobre exoplanetas. Tradicionalmente, os astrônomos inferem o tamanho desses corpos celestes a partir da sombra que eles fazem quando passam na frente de suas estrelas, mas é um desafio observá-los diretamente.
HD 20794 d é um planeta interessante porque está próximo o suficiente da Terra para que alguns telescópios high tech consigam vê-lo, como o Telescópio Extremamente Grande (ELT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), que está sendo construído no Deserto do Atacama, no Chile.
Usando um instrumento chamado espectógrafo, capaz de decompor e analisar a luz que atravessa a atmosfera o planeta, será possível obter informações sobre sua composição química. Seria um baque encontrar oxigênio, é claro.
Mas é bom lembrar que esse gás não é pré-requisito para a existência de vida, e que a própria Terra não tinha quantidades relevantes de O2 em sua atmosfera quando surgiram os primeiros microorganismos. Há muitas caminhos metabólicos possíveis para ganhar a vida por aí — life finds a way.
Fonte: abril