Dá para dividir o reino animal em dois. De um lado, as criaturas de sangue quente, também conhecidas como homeotérmicas, que conseguem manter a temperatura corporal numa média usando reservas de energia que vem da alimentação. Do outro, animais coloquialmente conhecidos como de sangue frio, os ectotérmicos, que dependem de fontes externas para se segurar num mesmo nível de temperatura.
Por muito tempo, se pensou que todos os dinossauros estivessem do lado dos ectotérmicos, como peixes, anfíbios e répteis. Porém, novos estudos têm revelado que dois dos três grandes grupos desses animais jurássicos provavelmente tinham sangue quente, como os mamíferos, as aves e nós, os seres humanos.
Cientistas da Universidade de Vigo, na Espanha, descobriram o porquê do desenvolvimento do sangue quente. A Terra passou por severas mudanças climáticas entre 250 e 65 milhões de anos atrás, e o jeito das espécies se adaptarem foi se tornando menos suscetíveis à influência da temperatura externa.
Manter cabeça fria não ajudou dinossauros
Há cerca de 200 milhões de anos, as mudanças climáticas começaram a ter um papel definitivo na evolução dos dinossauros. O desenvolvimento do sangue quente seria essencial, depois, para as aves, que só podem voar por causa do metabolismo elevado de animais homeotérmicos.
Os dois tipos de dinossauros homeotérmicos são os terópodes, como o tiranossauro e o velociraptor, e os ornitísquios, aos quais pertencem os triceratops e estegossauros. Ainda há outro grupo de dinossauros, os sauropodomorfos, que tinham pescoços gigantes e sangue frio.
Dinossauros que desenvolveram o sangue quente podiam até viver o ano inteiro no Ártico, construindo ninhos e dando à luz na região fria.
O desenvolvimento do sangue quente os ajudou a viver durante os períodos mais frios de flutuação climática, e a descoberta de fósseis nessa região é um dos principais argumentos para a existência de dinossauros homeotérmicos.
Diversas espécies que não conseguiram se adaptar, continuando com o sangue frio, morreram por causa das flutuações de clima, afirmou o paleontólogo Rainer Schoch em entrevista à Folha de S.Paulo.
As espécies de sauropodomorfos que sobreviveram nesse período eram tão grandes que tinham mais facilidade de manter a temperatura corporal estável, num fenômeno conhecido como gigantotermia.
Para Jasmina Wiemann, uma paleobióloga do Museu Field de História Natural, de Chicago, nos Estados Unidos, o estudo dos pesquisadores espanhóis não é tão conclusivo assim. Em 2022, ela publicou uma pesquisa que chegava a uma conclusão bem diferente: com base nos níveis de oxigênio nos fósseis, os ornitísquios provavelmente tinham sangue frio, enquanto os sauropodomorfos poderiam ser homeotérmicos.
Crise climática dos dinossauros?
Não dá para ter certeza sobre os números exatos das flutuações de temperatura, mas os pesquisadores conseguem saber que as fases frias eram quentes em comparação ao que temos hoje, e os momentos quentes eram muito mais quentes do que nossos padrões climáticos atuais.
Por mais que essas flutuações climáticas não tenham sido como as que vivenciamos na nossa crise atual, já que ocorreram num ritmo mais lento no decorrer de milhares de anos, elas têm a mesma causa.
A liberação exagerada de CO₂ na atmosfera, que hoje é culpa da atividade humana na Terra, também foi um problema para os dinossauros, mas por causa de atividade vulcânica, muito mais intensa na época, tornando o clima terrestre instável, esfriando durante milhares de anos e depois esquentando muito mais do que no passado.
Fonte: abril