O MapBiomas, projeto colaborativo de ONGs, universidades e startups de tecnologia, disponibilizou nesta quarta (21) seu mapeamento anual de cobertura e uso da terra no Brasil, com dados de 1985 a 2023. Segundo a Coleção 9 (nome que a rede deu para o levantamento), o país perdeu, nestes 39 anos, 110 milhões de hectares de áreas naturais – o equivalente a 33% do território nacional.
Em 1985, quando começam os dados analisados pelo MapBiomas, o Brasil já tinha perdido 20% de suas áreas naturais (uma definição que engloba vegetação nativa, superfície de água, praias e dunas). Naquela época, 76% do país era coberto por verde; hoje, essa fatia encolheu para 64,5%.
Esse terço sem vegetação nativa é o que os especialistas do MapBiomas chamam de “áreas antrópicas”, que tiveram seu aspecto original alterado, perturbado ou destruído pelo homem. Os usos da terra que mais cresceram nas últimas décadas foram a pastagem e a agricultura. A exploração agropecuária já ocupa 32,5% do país.
Metade do total de áreas naturais devastadas estão na região da floresta amazônica, essencial para regular o clima e conter as mudanças climáticas. A velocidade intensa com que a cobertura do solo está mudando no Brasil é um fator que impacta o clima regional e eleva o risco de eventos climáticos extremos no país.
Quem mais perdeu e quem mais protegeu
Algumas áreas melhoraram entre 2008 e 2023. 18% dos municípios apresentaram estabilidade no ganho e perda de vegetação, enquanto 37% ganharam vegetação nativa. Nos últimos 16 anos, 56% das cidades da Mata Atlântica tiveram crescimento da flora natural da região.
Isso não quer dizer que a situação do Brasil é motivo de comemoração. Foram 45% dos municípios perdendo vegetação nativa. O bioma com a maior proporção de perdas é o Pampa, no Sul. Desde 1985, ele perdeu 28% de sua cobertura original. Na sequência vem o Cerrado, que perdeu 27% no mesmo período.
41% do território nacional é coberto por florestas. Desde 1985, elas perderam 65 milhões de hectares, mais da metade de toda a vegetação nativa perdida no período. Boa parte dessas áreas, 13% da Amazônia Legal, são florestas públicas não destinadas – ou seja, são do Estado, mas não estão sob nenhum regime específico de proteção, o que facilita o desmatamento.
O novo levantamento do MapBiomas mostrou que as áreas mais preservadas do Brasil continuam sendo as terras indígenas, que cobrem 13% do território nacional. Enquanto elas perderam 1% de sua vegetação nativa nas últimas quatro décadas, as terras privadas perderam 28%.
Uma das novidades desse levantamento é a versão beta do mapeamento de recifes de coral em águas rasas, que podem ser detectados via satélite. Esses habitats marinhos são essenciais para cerca de 25% de toda vida marinha, e prestar atenção nas mudanças ecossistêmicas é importante para preservar a vida de peixes e outros seres que dependem deles.
Você pode acessar todos esses – e muitos, muitos outros – dados e fazer suas próprias simulações com mapas no site do MapBiomas.
Fonte: abril