Ele não tem nada a ver com carecas – ainda que o físico John Wheeler, o pai do teorema, realmente tenha uma quantidade modesta de fiozinhos de cabelo.
Esse teorema demonstra que é possível descrever matematicamente um buraco negro estacionário (isto é, parado) com apenas três dados: massa, momento angular e carga elétrica. Ou seja: esses astros são objetos matematicamente simples – ao contrário de muitas outras coisas na astrofísica que são cabeludas, complexas. Daí a piada.
Isso acontece porque um buraco negro é um sumidouro de informação: quando ele engole uma nuvem de gás, um planeta ou uma estrela, todos os dados sobre os átomos que formavam essas coisas se perdem definitivamente atrás do horizonte de eventos – um ponto de não retorno gravitacional do qual nada pode escapar, nem a luz, e que nós não conseguimos acessar com nenhuma tecnologia de sondagem.
Ou seja: se duas estrelas com composições químicas diferentes entrarem em colapso e derem origem a buracos, eles serão idênticos, indiferenciáveis por fora (desde que as estrelas tenham a mesma massa, claro). Essa é uma rara situação em que os ingredientes não mudam o resultado da receita.
Em princípio, isso não violaria nenhuma lei do Universo: a informação escondida atrás do horizonte de eventos não está necessariamente perdida. Os bits e bytes (sim, essas são unidades de medida de todas as informações, não só as armazenadas em computadores) podem ficar guardados dentro do buraco, aprisionados para sempre.
É como se o buraco negro fosse uma salsicha (rs): as aparas de carne foram processadas até atingir um estado irreconhecível, mas ainda estão lá de alguma forma estranha e transmutada.
O problema mesmo começou em 1974, quando Stephen Hawking descobriu que buracos negros não são fortalezas invioláveis.
Com o passar de bilhões ou trilhões de anos, todos eles vão se desfazendo lentamente na forma de uma energia térmica difusa chamada radiação Hawking (lembre, massa e energia são faces da mesma moeda: conforme uma coisa libera energia, ela perde massa também, até desaparecer).
As equações revelam que esse calorzinho não contém qualquer dado sobre os astros e nuvens de gás que originalmente contribuíram para a formação do buraco negro, e aqui mora o paradoxo: se a informação sobre o material engolido se perde para sempre, então esses objetos desrespeitam uma norma do funcionamento do cosmos – à qual não deveria haver exceções.
Esse problema permanece sem solução consensual.
Pergunta de Maria Clara Rossini, repórter da Super.
Fonte: livro The black hole war, de Leonard Susskind.
Fonte: abril