Algumas árvores têm caído na floresta amazônica, mas não por causa do desmatamento. Não é mágica, é o clima. O que está acontecendo são microbursts, ou, como os cientistas brasileiros chamam, rajadas descendentes ou microexplosões atmosféricas.
Uma microexplosão atmosférica é um evento extremo de clima que consiste em uma corrente de vento descendente muito forte que se separa de uma nuvem de tempestade e vai em direção ao solo. Basicamente, é o movimento oposto de um tornado, mas com poder destrutivo semelhante. Quando essa descarga de ar frio e denso atinge o solo, ela se espalha em ventos fortes e violentos pela área.
Ventos extremos – intensificados pelas mudanças climáticas – são os responsáveis por alterações na estrutura, composição e balanço de carbono das florestas, derrubando árvores na Amazônia. É isso que explica um estudo científico publicado no periódico American Geophysical Union Advances.
O estudo, liderado pelo pesquisador David Urquiza, do Instituto Max Planck de Biogeoquímica da Alemanha, mostrou que essas microexplosões estão acontecendo com mais frequência na Amazônia. Entre 1985 e 2020, os eventos quadruplicaram, crescendo especialmente depois da década de 1990.
Tornados ao contrário
Na origem tanto de um tornado quanto de uma microexplosão atmosférica, há uma nuvem cumulonimbus. Diretamente ligadas a tempestades, essas nuvens são primariamente verticais, às vezes com mais de 20 km de altura. Enquanto o tornado nasce de uma corrente de ar ascendente na base da nuvem, a microexplosão é causada pelo movimento descendente das correntes de ar.
As rajadas de ar se concentram em um trecho pequeno da nuvem, por isso as explosões são chamadas de “micro”. Quando a rajada atinge o solo, o barulho é alto e os ventos fortes podem se espalhar horizontalmente por uma área de até 4 km.
O fenômeno pode ocorrer o ano todo, mas é mais frequente no verão, com a umidade alta da estação. Os ventos causados por uma microexplosão atmosférica podem ultrapassar os 200 km/h, criando caos na floresta.
As quedas de árvores em decorrência de microexplosões atmosféricas foram identificadas usando o Landsat, programa da Nasa e do Serviço Geológico dos Estados Unidos que capta imagens de satélite da superfície terrestre. Dá para ver e comparar os pixels que foram afetados. Cada ponto da imagem corresponde a uma área de, mais ou menos, 900 m². Nesse espaço, cabem até oito árvores gigantes caídas.
Esses tornados ao contrário podem destruir árvores gigantes que levaram, em média, 400 anos para se desenvolver na Amazônia. Essas plantas são essenciais para o combate à crise climática, já que armazenam muito CO₂, acumulado durante séculos. O gás é liberado para a atmosfera quando elas caem, contribuindo para o efeito estufa.
As árvores gigantes, que oferecem sombra para a fauna local e oferecem alimento para animais, representam só 1% da flora da Amazônia. Pode não parecer muito, mas quando falamos de estoque de carbono, o número é bem diferente. As anciãs da floresta são responsáveis por 50% do CO₂ armazenado no ecossistema amazônico.
A crise climática intensifica as microexplosões atmosféricas que, por sua vez, derrubam árvores que liberam mais CO₂ na atmosfera, continuando o ciclo vicioso das mudanças climáticas.
Fonte: abril