Os sapinhos em desenhos animados costumam saltar pela água como se estivessem saltando no chão. A arte imita a realidade, mas com uma certa liberdade poética: o que acontece na natureza é que alguns sapos caem de barriga na superfície da água, mas antes de ficarem submersos, se lançam para cima novamente.
Um estudo publicado no Journal of Experimental Biology analisou esse comportamento dos sapos, para tentar defini-lo precisamente e cientificamente. Além disso, o artigo buscava saber se esses animais tinham alguma evolução anatômica que facilitava o ato de quicar na água.
A equipe de cientistas envolvidos na pesquisa usou vídeos de alta velocidade, com até 500 quadros por segundo, para registrar o pulo dos sapos-grilo do norte (Acris crepitans), espécie comum na América do Norte. As imagens foram feitas tanto na água, quanto em terra, para que os pesquisadores pudessem comparar os pulos.
Os vídeos mostraram que o corpo dos sapos fica abaixo da superfície da água toda vez que ele pousa.
Por mais esquisito que a ideia de pegar impulso sem o contato com o solo soe – e pareça desafiar a terceira lei de Newton, de ação e reação – esse evento não é exclusivo dessas rãs: algo parecido acontece quando jogadores de polo aquático se lançam no ar, dançarinas de nado sincronizado saltam ou cetáceos realizam seus pulos: o efeito porpoising (no português, a tradução seria algo como “golfinhar” e, por isso, ganhou o nome de “efeito golfinho”).
Esse efeito é conhecido, e temido, por fãs de Fórmula 1. No contexto dos carros, o termo foi adotado para descrever a oscilação indesejada que ocorre quando o carro “sobe e desce” nas pistas, devido a flutuações aerodinâmicas – algo problemático para o desempenho do veículo.
O porpoising nos golfinhos é o comportamento em que eles saltam para fora da água enquanto nadam rapidamente. Esse movimento cíclico é resultado da interação entre a resistência da água e a velocidade do golfinho.
Quando o golfinho atinge uma alta velocidade, ele gera impulso suficiente para romper a superfície da água, diminuindo temporariamente a resistência. Uma vez fora da água, a força de empuxo (a força exercida em um objeto mergulhado em um líquido) permite que ele continue subindo antes de começar a cair devido à gravidade, e o ciclo se repete.
Os sapos fazem algo parecido: eles batem com a barriga na água estendendo as pernas para trás. Esse movimento é suficiente para empurrá-lo para fora da água e, antes de pousar, estender suas pernas novamente para que consiga recriar o impulso. É como se eles quicassem constantemente na superfície da água, como uma pedra arremessada em um lago.
Isso quer dizer que os sapos não andam sobre as águas, tecnicamente. E muito menos precisam de alguma evolução estratégica para realizar o comportamento, basta saltitar como fazem em terra firme.
“Os sapos são ótimos saltadores, mas a maioria deles não exibe esse comportamento de porpoising, e nós ainda não sabemos por quê. Há algo especial no salto do sapo ou é simplesmente uma questão de tamanho pequeno do corpo?”, questiona Jake Socha, um engenheiro, para a Science Alert.
Essas perguntas devem ser exploradas em artigos futuros.
Fonte: abril