A semana no Brasil foi marcada por mudanças drásticas de temperatura. “Vão nos pasteurizar”, disseram internautas, em referência ao processo químico que usa temperaturas muito altas seguidas de temperaturas muito baixas para destruir microrganismos em alimentos.
Se nem na Terra a temperatura é equilibrada e bem distribuída, que dirá em todo o Sistema Solar.
Para começar, precisamos tirar da equação o vácuo do espaço, em que a concepção cotidiana de frio fica vaga porque não há quase nada ali, apenas algumas moléculas ou átomos esparsos – e estamos acostumados a pensar em temperatura como uma propriedade de alguma coisa, seja ar, água ou seu corpo.
No espaço aberto, os poucos átomos e moléculas que existem não são numerosos o suficiente, nem estão coladinhos o suficiente, para transferirem calor entre si e entrarem em um equilíbrio que entendemos como temperatura.
A temperatura é uma medida do grau de agitação médio de alguma coisa em escala microscópica. Por exemplo: se todas as moléculas do seu corpo estiverem, em média, mais agitadas, então você estará com febre. Ainda que uma ou outra esteja calminha.
Portanto, medir o grau médio de agitação de uma região de vácuo é como fazer uma pesquisa eleitoral com seis pessoas e querer que ela signifique algo.
Uma alternativa para determinar o calor do espaço é usar a radiação cósmica de fundo em micro-ondas. Essa radiação é o que restou da primeira luz que pôde viajar livremente pelo Universo após o Big Bang, e sua temperatura é de -270,45 ºC. Essa luz banha uniformemente todo o cosmos.
Isso é tremendamente frio. É o equivalente a 2,7 kelvins – só um pouco acima do zero absoluto, o ponto em que todo o movimento em escala molecular cessa.
Então, sem contar o espaço “vazio”, qual é o lugar mais frio do Sistema Solar?
Com os aparelhos corretos, cientistas podem medir a intensidade da radiação infravermelha e de micro-ondas emitida pelas superfícies de cada corpo celeste. Se isso não for possível, os cientistas podem estimar a temperatura com base em outros fatores, como a quantidade e a intensidade da luz solar recebida naquele local.
Plutão, o planeta mais distante do Sol, tem temperaturas em torno de 40,4 k, ou -232,75º C, de acordo com a NASA. É frio, mas não é o mais frio das redondezas.
Alguns pesquisadores defendem que os locais mais frios são algumas crateras “duplamente sombreadas” no polo sul da Lua.
Segundo um estudo apresentado em 2022 na Conferência de Ciência Lunar e Planetária, nos EUA, uma cratera pode ser considerada duplamente sombreada se estiver “protegida não apenas da iluminação solar direta, mas também de fontes de aquecimento secundárias”, como a “radiação solar refletida em áreas iluminadas próximas, bem como a radiação térmica emitida por essas superfícies quentes”.
Essas crateras têm bordas altas o suficiente para que a luz do Sol nunca atinja o ponto mais baixo no centro, razão pela qual são tão frias. De acordo com os autores, estima-se que elas atinjam temperaturas de 25 kelvins, ou -248,15ºC.
Mas a resposta final depende da delimitação das fronteiras do Sistema Solar. Isso porque existe uma nuvem de detritos espaciais localizada além da órbita de Netuno, onde a temperatura pode chegar a 5 kelvins – ou -268,15ºC.
Chamada de Nuvem de Oort, ela se localiza numa região controversa, que, às vezes, ela é considerada parte do Sistema Solar e, em outras, é definida como a fronteira entre nosso Sistema Solar e o espaço interestelar.
A própria NASA se confunde: em uma página de seu site, afirma que a Nuvem de Oort está na “região mais distante de nosso Sistema Solar”. Em outro, que está “além” do nosso Sistema Solar.
Seja qual for a resposta escolhida, o importante é que agora você tem números para argumentar que não, o lugar mais frio do Sistema Solar não é Curitiba.
Fonte: abril