Pesquisadores da Universidade de Nova Iorque analisaram 184 varreduras cerebrais (imagens do cérebro normalmente feitas com exame de ressonância magnética) de 140 fetos e crianças diferentes entre 25 e 55 semanas pós-concepção, mostrando como é o cérebro de um bebê humano antes e depois do parto.
Uma gravidez geralmente dura cerca de 40 semanas, então a pesquisa analisa desde 15 semanas antes do parto até 15 semanas depois. Fazendo isso, os cientistas viram que os neurônios de um bebê já estão ativos antes do nascimento, mas também concluíram que a atividade cerebral em regiões específicas do cérebro aumenta bastante após o nascimento.
As regiões cerebrais que ficaram mais ativas pós-parto foram a rede sensório-motora – essencial para o desenvolvimento da coordenação motora e por processar estímulos externos, como vistas e sons – e a rede subcortical, onde informações de diferentes áreas cerebrais são repassadas e redirecionadas.
Esse aumento de atividade neuronal faz todo sentido, é claro, já que, depois do parto, um bebê entra em contato com vários estímulos externos novos, como a luz, os barulhos do ambiente, os cheiros estranhos e a respiração e alimentação por vias diferentes. Tudo isso já era de certa forma sabido, mas o novo artigo, publicado no periódico PLOS Biology, mostra a mudança no cérebro dos bebês na prática.
Ressonância magnética em fetos?
Os pesquisadores, liderados pela principal autora do estudo, Lanxin Ji, passaram mais de uma década juntando as neuroimagens dos bebês, usando ressonâncias magnéticas para produzir as imagens. Essa técnica mede a atividade cerebral indiretamente, monitorando a quantidade de sangue oxigenado passando pelo órgão – e, portanto, sendo usado pelos neurônios.
Mas, para fazer uma boa ressonância magnética, o paciente precisava ficar imóvel, deitado numa máquina que nem a de Avatar. Os fetos têm dificuldade em ficar parados ali dentro do útero – e pedir para eles ficarem quietos não vai dar muito certo.
Para resolver esse problema, os pesquisadores trabalharam com uma bobina magnética macia que foi posicionada diretamente na barriga das gestantes, e usaram várias técnicas para eliminar os efeitos da dança dos bebês – até recorrendo a algoritmos de aprendizado de máquina.
Apesar das diferenças em atividade entre a vida no útero e fora dele, a eficiência da comunicação entre os neurônios foi aumentando gradualmente. No início, faltava refinamento para que as redes neurais dos bebês conseguissem realizar atividades complexas. Os pesquisadores acreditam que o cérebro leva mais tempo para ficar mais eficiente porque está podando as conexões desnecessárias anteriores.
Outra conexão neural que aumentou em atividade depois do nascimento foi a rede superior frontal, que conecta áreas do cérebro que regulam habilidades cognitivas complexas, como a memória de curto prazo. Os cientistas não esperavam por essa descoberta, já que a ideia geral é que o lóbulo frontal só se desenvolve mais tarde na infância. Mais pesquisas são necessárias para entender o dado.
Fonte: abril