O Grande Lago Salgado é, como o nome diz, um grande lago cuja principal característica é sua salinidade alta – maior até que a dos oceanos. Ele tem quase 19 trilhões de litros de volume e cobre uma área de 2.500 quilômetros quadrados no estado de Utah, nos Estados Unidos.
Por causa da altíssima concentração de sal, acreditava-se que o lago era um ambiente extremo demais para a maioria das espécies animais. Apenas duas eram resistentes o bastante para viver lá: moscas do gênero Ephydra e artêmias, pequenos crustáceos fãs de águas bem salgadas.
Esses são os únicos moradores representantes do reino Animalia. Tirando eles, apenas bactérias (reino Monera) e algas unicelulares (reino Protista) foram encontradas no lago.
Pelo menos era isso que se pensava. Agora, cientistas da Universidade de Utah descobriram uma terceira forma de vida multicelular escondida embaixo do lago. Seu estudo foi publicado no periódico científico Proceedings of the Royal Society.
O lago tem um depósito de sedimentos rico em carbonato de cálcio. Chamados de microbialitos, é construído com a ajuda de microrganismos que moram no leito do lago. Os pesquisadores identificaram pequenos vermes escondidos entre os pedaços da lama, longe dos olhos.
São os chamados nematóides, vermes cilíndricos e alongados. Alguns têm vida livre, enquanto outros podem parasitar humanos, outros animais e plantas (Ascaris lumbricoides, a lombriga, é um exemplo).
Uma característica importante desse filo é sua capacidade de aguentar ambientes extremos. Quando as condições ambientais são muito desfavoráveis, eles podem entrar em uma espécie de modo de repouso – eles desligam suas atividades metabólicas a níveis baixíssimos. Assim, eles se mantém vivos durante secas prolongadas, temperaturas congelantes ou extremamente altas, falta de oxigênio e pressões altíssimas, podendo “ligar” novamente depois que elas passarem. O nome disso é criptobiose, e também é o que dá a incrível resistência dos tardígrados.
Esse é o ambiente mais salino em que nematóides já foram encontrados. O que começou como um recolhimento de amostras de solo mudou assim que os pesquisadores perceberam os microbialitos. Em uma parte do lago três vezes mais salgada que o oceano, os biólogos tiraram pequenos pedaços de segmentos e, tentando preservá-los ao máximo, os levaram até o laboratório.
Usando uma técnica para separar macromoléculas como DNA, RNA e proteínas, eles identificaram nematóides vivos em todos os locais onde coletaram amostras.
A teoria dos pesquisadores é de que esses vermes estão se alimentando das bactérias que criaram essa lama. Escondidos sob ela, também estariam protegidos do sol, e não precisariam se preocupar em secar quando a água do lago baixa.
Por terem dificuldade de cultivar os nematoides em laboratório, os biólogos chamaram sua parente mais estudada: a pequena lombriga Caenorhabditis elegans.
No ambiente controlado, eles testaram sua hipótese. A lombriga foi alimentada ou com bactérias E. coli ou com as bactérias dos microbialitos no Grande Lago Salgado. Depois, eles foram expostos à água do lago – 50 vezes mais salgada do que a lombriga está acostumada em seu habitat.
Após cinco minutos, todos os vermes alimentados com E. coli morreram. Mas aqueles que foram alimentados com micróbios do Grande Lago Salgado sobreviveram por mais de 24 horas. Os resultados sugerem que há algo nesta dieta específica que permite que as lombrigas do Grande Lago Salgado sobrevivam.
Análises genéticas sugerem que os pesquisadores tenham achado cerca de 80 nematóides diferentes no lago. A grande maioria deles não correspondia a nenhum gênero ou espécie de nematóide conhecido. Os pesquisadores acreditam que esses novos vermes são exclusivos do Grande Lago Salgado, criados após um período prolongado de isolamento reprodutivo.
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Fonte: abril