📝RESUMO DA MATÉRIA

  • A doença de Lyme afeta 500.000 americanos por ano, com até 20% apresentando sintomas de longo prazo. O documentário “The Quiet Epidemic” explora por que essa doença prevalente continua sendo controversa e desafiadora de diagnosticar e tratar.
  • A doença imita várias condições, levando a diagnósticos incorretos e tratamento tardio. Pode apresentar sintomas semelhantes à síndrome da fadiga crônica, fibromialgia, esclerose múltipla e até Alzheimer.
  • Os protocolos padrão de teste e tratamento não são confiáveis, gerando debate entre aqueles que acreditam que a doença de Lyme seja fácil de tratar e aqueles que argumentam que ela pode persistir, mesmo com o uso de antibióticos.
  • O filme destaca a luta dos pacientes, incluindo a jornada de Julia Bruzzese, e mostra pesquisas promissoras em técnicas de imagem que podem detectar de forma definitiva a bactéria Borrelia, que causa a doença de Lyme, nos corpos dos pacientes.
  • A defesa dos pacientes tem sido crucial para o avanço da compreensão da doença de Lyme. O documentário pede por uma mudança nas abordagens médicas para doenças complexas e crônicas, além de melhores ferramentas de diagnóstico.

🩺Por Dr. Mercola

Durante décadas, a doença de Lyme tem sido uma fonte de sofrimento, confusão e debate acalorado na comunidade médica. O documentário — The Quiet Epidemic — lança luz sobre esta doença incompreendida e complexa, acompanhando as histórias de pacientes que lutam por diagnóstico e tratamento adequados diante do ceticismo e opiniões médicas conflitantes.

A doença de Lyme, transmitida pela picada de carrapatos infectados, tem se tornado cada vez mais comum nos EUA. Como explica a repórter investigativa Mary Beth Pfeiffer no documentário:

“Agora temos quase 500.000 casos de doença de Lyme nos EUA a cada ano. Há mais casos de doença de Lyme do que de HIV e câncer de mama juntos. Desses 500.000 casos, cerca de 10% a 20% permanecerão doentes por algum período de tempo. Agora acreditamos que algo em torno de 2 milhões de pessoas sofrem os efeitos posteriores da doença de Lyme nos Estados Unidos”.

Apesar de sua prevalência, a doença de Lyme continua sendo um tópico controverso na medicina. O documentário explora por que essa “epidemia silenciosa” tem sido tão polêmica e por que muitos pacientes enfrentam dificuldades para receber o tratamento adequado. Você pode ver o trailer oficial no vídeo acima.

Uma doença de muitas faces

Um dos principais desafios no diagnóstico e tratamento da doença de Lyme é sua capacidade de imitar outras condições. O Dr. Richard Horowitz, que aparece no filme, é especialista em doença de Lyme, e explica:

“A doença de Lyme pode ter sido a grande imitadora dos anos 1980 e 1990, pois ela pode causar quase tudo… Os diagnósticos errados mais comuns que vejo na minha prática são de pessoas que foram diagnosticadas com síndrome da fadiga crônica, fibromialgia, artrite reumatoide, lúpus, esclerose múltipla é uma das principais, e pacientes com demência, Alzheimer. A doença de Lyme pode imitar todas essas doenças diferentes”.

Essa natureza camaleônica da doença de Lyme costuma levar a diagnósticos incorretos e tratamento tardio, permitindo que a infecção progrida, podendo causar danos a longo prazo.

O documentário acompanha a história de Julia Bruzzese, uma jovem vibrante do Brooklyn, Nova York, cuja vida, de repente, virou de cabeça para baixo por sintomas misteriosos e debilitantes. O pai de Julia relata a experiência angustiante:

“A escola me ligou e disseram que havia algo muito errado com Julia. Você precisa vir aqui agora mesmo. Quando cheguei lá, encontrei Julia na enfermaria, e ela estava apática, caída sobre duas cadeiras. Fui cutucar Julia e perguntei: “Julia, Julia, o que houve? O que aconteceu?’ Ela disse: ‘Pai, eu não consigo enxergar. Eu não consigo sentir meus braços e não consigo sentir minhas pernas.'”

Apesar de testes extensivos, no início, os médicos não conseguiram determinar a causa dos sintomas de Julia. Foi somente após a pesquisa incansável de seu pai que a doença de Lyme surgiu como uma possível explicação.

A batalha pelo diagnóstico e compreensão

O caso de Julia destaca uma experiência comum para muitos pacientes com a doença de Lyme: a luta para obter um diagnóstico preciso. Os testes convencionais para a doença de Lyme não são confiáveis, ainda mais nos estágios mais avançados da doença. Como o documentário revela, isso levou a um debate contencioso na comunidade médica sobre como diagnosticar e tratar a doença de forma adequada.

O falecido Dr. Neil Spector, pesquisador de câncer da Duke University e paciente da doença de Lyme, enfatizou a necessidade de melhores ferramentas de diagnóstico:

“Com todas essas incógnitas, há uma certeza: as pessoas estão caindo pelas brechas do sistema médico. A responsabilidade de provar que estão doentes não deve recair sobre as pessoas doentes. Deveria ser nossa responsabilidade, como profissionais de saúde, entender melhor o que está acontecendo e ajudá-los”.

No centro do debate sobre a doença de Lyme está a questão de saber se a infecção pode persistir após o tratamento antibiótico padrão. O documentário explora a divisão entre dois campos na comunidade médica:

  1. Aqueles que acreditam que a doença de Lyme é fácil de ser tratada com curtos períodos de antibióticos e raramente, ou nunca, se torna crônica.
  2. Aqueles que argumentam que a doença de Lyme pode persistir e causar sintomas contínuos mesmo após o tratamento inicial, exigindo terapias alternativas ou de longo prazo.

Essa discordância levou a batalhas intensas sobre diretrizes de tratamento, cobertura de seguros e a própria legitimidade dos sintomas contínuos dos pacientes. O filme destaca pesquisas que desafiam a noção de que a doença de Lyme é sempre fácil de curar. O Dr. Ying Zhang, microbiologista da Universidade Johns Hopkins, descreve um fenômeno observado na Borrelia burgdorferi, a bactéria que causa a doença de Lyme:

“Estamos lidando com uma situação muito singular aqui. O antibiótico atual da doença de Lyme não erradica a bactéria Borrelia por completo. Encontramos esse fenômeno de resistência semelhante ao dente-de-leão. A máquina de cortar grama é equivalente aos antibióticos, que cortam a parte superior. Mas como a raiz, o que sustenta, ainda está lá, eles podem crescer de novo. “Você precisa de medicamentos que atuem em ambas as partes para ser mais eficiente na cura dessa forma persistente da doença”.

Essa pesquisa sugere que os tratamentos antibióticos padrão nem sempre erradicam a infecção, explicando por que alguns pacientes continuam apresentando sintomas muito tempo depois do tratamento inicial.

O custo humano da controvérsia

O documentário ilustra de forma poderosa o impacto devastador que o ceticismo médico pode ter na vida dos pacientes. O pai da Julia teve que deixar o emprego para cuidar da filha em tempo integral, enquanto a família enfrentava dificuldades financeiras e uma turbulência emocional.

A história de Spector serve como outro exemplo gritante. Apesar de ser um renomado pesquisador do câncer, ele lutou durante anos para receber um diagnóstico adequado e quase morreu de insuficiência cardíaca induzida pela doença de Lyme antes de finalmente receber um transplante de coração. Essas histórias ressaltam a necessidade urgente de uma melhor compreensão e reconhecimento das diversas manifestações e efeitos a longo prazo da doença de Lyme.

O filme também destaca avanços promissores na pesquisa da doença de Lyme, incluindo técnicas de imagem revolucionárias que podem mostrar de forma definitiva a presença da bactéria Borrelia no corpo dos pacientes. Ao ver os primeiros resultados desta pesquisa, Spector exclamou: “É isso. Isso é como uma prova de conceito. Nós vamos conseguir”. Ele continua explicando o impacto:

“Se você puder fazer imagens disso no corpo, acho que eliminaria todas as dúvidas. Não tenho certeza se ainda há controvérsia. Para mim, isso é uma evidência bastante definitiva de que você tem a bactéria e precisa ser tratado para uma infecção ativa”.

Esses avanços podem mudar de forma drástica o cenário do diagnóstico e tratamento da doença de Lyme, com o potencial de encerrar anos de debate e trazer alívio a inúmeros pacientes que sofrem.

O papel dos pacientes no avanço da compreensão

O documentário destaca como os pacientes e seus defensores desempenharam um papel crucial na luta por mais pesquisas e no reconhecimento das complexidades da doença de Lyme. A história de Julia, que ganhou ampla atenção da mídia após um encontro casual com o Papa Francisco, ajudou a trazer atenção nacional para o assunto. Horowitz enfatiza a importância de ouvir os pacientes:

“Quando eu estava buscando respostas para os pacientes de Lyme, descobri que havia várias razões pelas quais as pessoas continuavam doentes. Era como ir ao consultório médico com 16 pregos no pé, dizer que você tem dor no pé, e o médico arranca um prego e diz para voltar em um mês. Você ainda tem 15 pregos no pé, vai continuar sentindo dor”.

Essa abordagem centrada no paciente levou a uma compreensão mais detalhada da doença de Lyme e suas coinfecções, desafiando o modelo de tratamento único para todos. O filme também apresenta argumentos convincentes para uma mudança fundamental na forma como a comunidade médica aborda a doença de Lyme. Spector argumentou:

“A boa ciência vai superar o mau comportamento. E quando essa mudança acontecer, espero que não seja apenas no nível da prática clínica, mas também se reflita em políticas públicas, cobertura de seguros, e todas as outras injustiças que foram perpetuadas ficarão para trás”.

Esse apelo por mudança vai além da doença de Lyme, abordando questões mais amplas sobre como a comunidade médica lida com doenças crônicas e complexas que não se encaixam de maneira perfeita nos paradigmas existentes.

Olhando para o futuro

Ao concluir, o documentário deixa os espectadores com uma sensação de otimismo cauteloso. Embora ainda existam desafios significativos no diagnóstico e tratamento da doença de Lyme, a maré parece estar mudando. O aumento da conscientização, novas pesquisas e os incansáveis esforços de pacientes e defensores estão, lenta mas seguramente, mudando o debate sobre essa doença devastadora.

Julia, agora uma defensora apaixonada pela conscientização sobre a doença de Lyme, resume esse espírito de determinação: “Para as pessoas que estão sofrendo agora, sejamos sua voz. Você não pode desistir. Porque se fosse você ou sua família, você não poderia apenas virar as costas para eles e dizer que não há esperança”.

O filme serve como um poderoso lembrete do custo humano das controvérsias médicas e da importância vital de pesquisas contínuas e da investigação com a mente aberta. À medida que a doença de Lyme continua afetando mais pessoas a cada ano, a necessidade de consenso, melhores ferramentas de diagnóstico e tratamentos eficazes se torna cada vez mais urgente.

No final, o documentário pinta um quadro da doença de Lyme não apenas como um problema médico, mas como um problema humano. Uma história de sofrimento, resiliência e a luta contínua por compreensão e reconhecimento diante de uma doença complexa e muitas vezes mal compreendida.

Dicas para prevenção e tratamento da doença de Lyme

Diante dos desafios no diagnóstico e tratamento da doença de Lyme, é fundamental priorizar a prevenção. Aqui estão algumas estratégias importantes para reduzir o risco de exposição a carrapatos:

  • Fique longe de áreas onde os carrapatos proliferam, como pilhas de folhas perto de árvores. Quando estiver fazendo trilhas, permaneça no centro dos caminhos e evite o contato com a grama alta ou vegetação nas bordas da trilha. Evite sentar em troncos caídos ou tocos de árvores e tenha ainda mais cuidado em áreas com populações conhecidas de ratos.
  • Opte por roupas de cores claras que cubram seus braços e pernas. Isso facilita detectar carrapatos em suas roupas.
  • Para uma proteção extra, em especial em áreas arborizadas, coloque as calças dentro das meias e a camisa dentro das calças. Use sapatos fechados e chapéu.
  • Lembre-se de que os carrapatos são muito pequenos. Para evitar picadas, faça uma verificação completa de carrapatos logo que retornar para casa. Continue essas verificações por vários dias após uma possível exposição. Não se esqueça de inspecionar sua roupa de cama durante esse período também. O objetivo é localizar e remover os carrapatos antes que eles tenham a chance de picar, então seja diligente em suas verificações pós-exposição.

Se você descobrir que um carrapato está preso em você, é muito importante removê-lo de maneira correta e, se possível, mantê-lo vivo. Use uma pinça ou um removedor de carrapatos para pegá-lo o mais próximo possível da pele. Depois, puxe-o para fora, e não o aperte nem torça.

Depois de removido, certifique-se de guardar o carrapato para que ele possa ser testado quanto à presença de organismos patogênicos. Coloque o carrapato em um recipiente e etiquete-o com seu nome, data, local da picada e há quanto tempo o carrapato ficou preso à sua pele. Compartilhe essas informações com a sua secretaria de saúde local ou outra autoridade.