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Ciência & Saúde

Descoberta revela: dieta paleolítica incluía alto consumo de carboidratos

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Ferramentas de pedra de 780 mil anos encontradas no Vale de Hula, em Israel, contêm resquícios de amido que contestam uma ideia corriqueira no imaginário popular: a de que os seres humanos do paleolítico, período da pré-história anterior à invenção da agricultura, se alimentavam apenas de proteína animal, frutas, sementes, raízes e outros alimentos in natura.

Essa é a lógica por trás da dieta paleo, popularizada no fim da década de 2010 pelos livros do nutricionista americano Loren Cordain. O cerne de seu argumento é que evoluímos para comer o que é plausível encontrar na mata fechada em um episódio de Largados e Pelados. Afinal, esse foi o cardápio da nossa espécie pela maior parte de seus 300 mil anos de existência.

Cordain recomenda excluir laticínios, sal, álcool, café, gorduras vegetais, legumes domesticados por seleção articial (como brócolis, couve-flor etc.) e grãos como trigo e cevada, que permitem a existência de pão e cerveja. Também exclui, evidentemente, alimentos ultraprocessados.

Por um lado, há evidências (batante esperada) de que essa abordagem é mais saudável que a rotina repleta de alimentos industrializados das metrópoles atuais. Mas isso vale para qualquer dieta que dê preferência a alimentos in natura e reduza a ingestão de açúcar. Você não precisa necessariamente comer como Fred Flintstone.

Por outro lado, há uma série de estudos que revelam que o genoma humano mudou rapidamente em resposta às novas exigências digestivas que chegaram há aproximadamente 12 mil anos com o período neolítico, quando a plantação extensiva de grãos com alto teor de carboidrato substituiu a caça e a coleta em muitas sociedades.

Além disso, também há uma pilha crescente de artigos científicos publicados por paleontólogos com indícios de seres humanos e neandertais comendo carboidrato com a gana de 10 mil pizzaiolos famintos muito antes da popularização da monocultura em larga escala no Oriente Médio.

O estudo feito por pesquisadores da Universidade Bar-Ilan no Vale de Hula se soma a essa literatura já um bocado vasta. O sítio arqueológico forneceu mais de vinte camadas de sedimento que evidenciam o caráter onívoro da dieta dos sapiens que costumavam fazer suas refeições no local. Os achados saíram no periódico especializado PNAS.

Lá havia grãos de amido oriundos de uma variedade de tubérculos, nozes e bolotas, plantas aquáticas e sementes de gramíneas (parentes das plantas que depois dariam origem a trigo e cevada). Também havia sinais claros de que esses ingredientes eram moídos ou picados para inclusão em receitas.

A ideia errônea de que a dieta paleolítica dependia um bocado de proteína animal vem da dedicação desproporcional que os arqueólogos dedicaram à análise de ossos de animais em assentamentos humanos ao longo das últimas décadas.

Esse viés é acidental. Aconteceu porque, via de regra, ossos se preservam mais facilmente do que resquícios vegetais e exibem marcas claras do uso de ferramentas de pedra e não porque a caça fosse mesmo o grosso da dieta pré-histórica.

É fato que o consumo de proteína animal aumentou conforme o ser humano se tornou um animal mais cabeçudo e sociável, capaz de organizar caçadas em grupo e de derrubar animais muito maiores que seu próprio corpo, como bisões e mamutes. Essas atividades diferiam um bocado da dieta centrada em frutas dos nossos antepassados primatas, que viviam em árvores, e acabaram eternizadas em pinturas rupestres.

Mas isso não significa que nossos antepassados conseguiam matar um mastodonte por dia — essa era uma tarefa demorada, perigosa e pouco recompensadora, já que você torrava um bocado de calorias procurando e perseguindo o bicho —, nem que eles não apreciassem uma saladinha para acompanhar o churrasco.

 

 

 

 

 

 

Fonte: abril

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