Um grupo de vinte pesquisadores se aventurou pela região de Alto Mayo, um pedaço protegido de Floresta Amazônica no noroeste do Peru, para fazer um Boletim de Avaliação Biológica da área. A expedição dos cientistas durou 38 dias, e eles registraram 2.046 espécies.
Dessa lista, 27 eram inéditas. Entre elas, os cientistas encontraram um peixe com cabeça de bolha, uma salamandra que escala árvores e um rato que é um misto de mamífero e anfíbio. Esses animais antes desconhecidos provavelmente só podem ser encontrados naquela região — ou seja, são endêmicos.
Os cientistas envolvidos na expedição não esperavam encontrar tantas espécies. A região de Alto Mayo tem uma alta densidade populacional, com 280 mil pessoas nas cidades, e os bosques sofrem com desmatamento do solo para uso agrícola. A degradação ambiental da área é uma ameaça para essas espécies raras e recém-descobertas.
O relatório foi publicado pela ONG Conservação Internacional, que se dedica a proteger hotspots de biodiversidade da Terra. A organização não-governamental é a responsável pelo Centro para Ciência Betty e Gordon Moore, que já publicou mais de 1.300 pesquisas científicas revisadas por pares voltadas à conservação do meio-ambiente. O Boletim de Avaliação Biológica do Alto Mayo pode ser acessado aqui.
Conheça as espécies descobertas
Quatro mamíferos deram as caras pela primeira vez na história da ciência: um tipo de rato espinhoso, um morcego-da-fruta com cauda curta, um esquilo anão com 14 cm de altura e o já mencionado rato anfíbio.
Ele continua sendo um mamífero, como todos os roedores, mas ele é semi-aquático. Faz parte de um grupo minúsculo de espécies de roedores carnívoros que se comportam como anfíbios, com uma fase de vida terrestre e outra aquática. Dá uma olhada:
Animais como esse são muito difíceis de serem encontrados. O rato anfíbio só foi identificado em um pequeno pedaço de pântano, numa região que é ameaçada pelo avanço agrícola. Esses ratinhos raros talvez não vivam em nenhum outro lugar, e têm seu único habitat ameaçado.
A descoberta mais intrigante para os pesquisadores foi o peixe cabeça-de-bolha. Ele se parece com um bagre, mas com um anexo bizarro, cheio de pintas, que parece… bem, uma bolha. Olha só:
A função da bolha na cabeça do peixe ainda é um mistério para os cientistas. Em entrevista ao The Guardian, o líder da expedição, Dr. Trond Larsen, especula que talvez a testa de bolha tenha alguma relação com órgãos sensoriais na cabeça, ou com o controle de flutuabilidade dos animais.
A bolha também pode servir como reserva de alguns nutrientes essenciais ou de gordura (mais ou menos como a corcova dos camelos e dromedários). Mais estudos são necessários para desvendar o mistério.
Outras sete espécies de peixe também foram documentadas pela expedição, junto de um tipo de sapo, dez borboletas diferentes e dois escaravelhos.
A expedição aconteceu entre junho e julho de 2022. Algumas das espécies registradas eram inéditas para a ciência, mas não para os povos indígenas da região, que já as conheciam. Das mais de 2000 formas de vida identificadas, pelo menos 34 parecem ser endêmicas à região de Alto Mayo e arredores, e 49 estão ameaçadas de extinção.
Fonte: abril