Diferentemente dos neandertais, os denisovanos são os primos menos pop dos Homo sapiens. Essa espécie de hominídeo só foi identificada recentemente, em 2010, e poucos fósseis foram encontrados até hoje. Mesmo assim, seus rastros permanecem em nosso DNA, indicando que, no passado, os humanos e os denisovanos procriaram.
Agora, um novo estudo identificou mais um fragmento fóssil de um denisovano – e, além de tudo, desvendou alguns segredos desses hominídeos, incluindo as estratégias usadas por esse grupo para sobreviver a temperaturas baixíssimas, em altitudes altíssimas aos pés do Himalaia. A pesquisa foi liderada por cientistas da Universidade de Lanzhou, na China, e publicada no periódico nature.
Histórico
Em 2020, a mesma equipe publicou um estudo de grande importância, que identificou o primeiro denisovano fora da Sibéria. Naquele ano, os cientistas usaram uma técnica de análise de proteínas para descobrir que uma mandíbula que estava guardada na universidade há décadas era, na verdade, de um denisovano. O pedaço do osso tinha sido achado em 1980 por um monge budista na caverna Baishiya Karst, que fica a mais de 3.000 metros acima do nível do mar no Tibete, China.
Antes desse artigo de 2020, os únicos e poucos fragmentos de denisovanos haviam sido encontrados na caverna de Denisova (daí o nome da espécie), que fica na Sibéria, Rússia. Em 2010, cientistas analisaram o DNA de um naco de dedo mindinho e descobriram que pertencia a uma espécie inédita.
Desde então, a ciência tenta desvendar mais sobre esses hominídeos, mas pouco sabemos sobre sua aparência, seus hábitos, sua distribuição geográfica, fluxos migratórios e por que foram extintos. O nosso próprio DNA esconde algumas pistas: humanos do leste asiático e Oceania carregam algo entre 0,5% e 6% de genes denisovanos. Isso indica que a espécie sobreviveu por muito tempo, ocupava uma área geográfica grande e, claro, que fez sexo com seres humanos ancestrais.
Novas descobertas
O novo estudo voltou a analisar a caverna de Baishiya Karst, no Tibete, em busca de mais detalhes sobre como os denisovanos ali viviam. Algumas conclusões surpreenderam. Primeiro, a equipe identificou um pedaço de costela que pertencia a um novo indivíduo denisovano, apenas o sexto já descoberto. A datação do fóssil indica que ele viveu entre 48 mil e 32 mil anos atrás – relativamente recente. Nessa época, inclusive, já há evidências de Homo sapiens vivendo no Tibete, o que indica que as espécies podem ter convivido na região.
A identificação de que esse pedaço de osso era de um denisovano foi feita usando a análise do colágeno, uma proteína; a equipe não encontrou DNA ainda nesse fóssil. O colágeno encontrado, porém, continha uma sequência de aminoácidos parecida com a vista em fósseis denisovanos na Rússia.
Mais do que isso, o novo fóssil mostra uma grande resiliência dos denisovanos: a mandíbula encontrada pelos monges budistas e que foi identificada como de um indivíduo denisovano datava de 160 mil anos. Isso significa que, naquela caverna, esses hominídeos viveram por mais de 100 mil anos, enfrentando, portanto, pelo menos dois períodos glaciais.
É ainda mais impressionante quando lembramos que eles estavam vivendo no topo do mundo, a mais de 3 mil metros do nível do mar, em um local onde as temperaturas frequentemente passam abaixo de zero e o oxigênio é rarefeito.
Como eles conseguiram?
No novo artigo, os cientistas descobriram um dos segredos dos denisovanos: eram caçadores hábeis, que miravam para todos os lados.
Analisando restos fósseis encontrados na caverna contemporâneos aos dos denisovanos, os cientistas acharam fragmentos de ossos de caprinos (família que inclui cabras e ovelhas), bovinos selvagens, cavalos, gazelas, raposas e até lobos.
Esses restos mortais continham sinais de que haviam sido manipulados e cortados por humanos, confirmando que não são mortes aleatórias. A equipe se surpreendeu com pedaços de ossos de animais ágeis e difíceis de caçar, como marmotas (pequenos roedores) e águias.
Fonte: abril