Ao contrário da maioria dos corais, o coral-cogumelo (Cycloseris cyclolites) é solitário: ele não está preso ao fundo do oceano e não forma colônias em recifes. Esse pequeno animal, com formato de disco e cerca de quatro centímetros de diâmetro, consegue “caminhar” por aí, ainda que lentamente – e, agora, cientistas finalmente descobriram como.
Usando vídeos em alta resolução, pesquisadores australianos conseguiram observar os movimentos do coral em detalhes. A equipe descobriu que o bicho consegue se movimentar ao contrair e expandir seus tecidos em um ritmo regular, gerando “pulsos” que o fazem ir para frente. O movimento lembra o usado por águas-vivas para se locomover na água.
O estudo que descreve as descobertas foi publicado na revista científica PLOS One.
Os vídeos foram feitos durante um experimento em que os corais foram colocados num grande aquário. Depois disso, toda a sala ficou em completa escuridão, e os cientistas posicionaram dois focos de luz no recinto: um dos lados mostrava uma luz branca, e o outro, uma luz azulada.
As luzes foram colocadas lá porque, na natureza, são elas que guiam as migrações dos corais solitários. Esse processo é chamado de “fototaxia” e acontece com vários seres vivos: algumas plantas, por exemplo, se voltam em direção ao sol para maximizar o tempo de fotossíntese.
E as cores escolhidas não foram à toa: a luz branca parece com a encontrada em águas rasas, enquanto a luz azul simula aquela que chega em áreas mais profundas do oceano.
O estudo mostrou que os corais tinham uma preferência forte pela luz azul, se movendo em direção a ela em quase todos os testes. Faz sentido, já que a espécie, na idade adulta, tende a migrar para áreas mais profundas do mar.
Apesar do coral-cogumelo conseguir “andar”, inflando e desinflando seus tecidos, o movimento acontece muito lentamente. Para se mover pouco mais de um centímetro, pode demorar horas e horas. Só dá para perceber o deslocamento em vídeos acelerados.
Já se sabia antes que esses corais conseguiam se mover, mas esse foi o primeiro estudo que investigou a fundo o mecanismo e explicou em detalhes como isso acontece.
Na natureza, é provável que os corais se movam para encontrar condições mais favoráveis de vida. Nas águas mais profundas, para onde eles costumam ir, a competição com outros animais é menor, e a temperatura também varia menos (isso é importante porque a variação de temperatura pode levar ao branqueamento do coral, processo em que o organismo fica fraco e morre).
Fonte: abril