O cirurgião-geral dos EUA, Vivek Murthy, defendeu que as embalagens de bebida alcoólica passem a trazer advertências, como as presentes nos maços de cigarro, alertando sobre o risco de desenvolver câncer ao consumir o produto.
A declaração de Murthy (o cirurgião-geral é um médico que atua como porta-voz do governo americano para assuntos de saúde) se insere em um momento crítico, com os EUA preparando a nova edição de suas diretrizes alimentares – e uma polêmica envolvendo o entendimento científico sobre o álcool.
Ao longo das últimas décadas, o consumo moderado de bebidas alcoólicas foi considerado aceitável, e até benéfico, para a saúde: vários estudos apontaram uma relação entre esse hábito e menor risco de doenças cardiovasculares. Mas o cenário começou a mudar no final de 2022, quando a OMS concluiu que não existe nível seguro para o consumo de álcool.
“O etanol (álcool) causa pelo menos sete tipos de câncer, incluindo os tipos mais comuns, como câncer de intestino e câncer de mama”, afirmou a entidade, que em seguida foi ainda mais incisiva: “Qualquer bebida contendo álcool, independentemente do seu preço ou qualidade, representa um risco de desenvolver câncer”.
Segundo a OMS, metade de todos os casos de câncer atribuíveis ao consumo de álcool, na Europa, ocorre em pessoas com consumo leve ou moderado de álcool (definido como menos de 1,5 litro de vinho, ou 3,5 litros de cerveja, por semana).
A inclusão de alertas nas latas e garrafas de bebida, como Murthy defende, teria de ser aprovada pelo Congresso dos EUA. “Muitas pessoas assumem que, desde que elas bebam dentro ou abaixo do limite, uma dose por dia para mulheres ou duas para homens, não há risco à saúde”, declarou ele ao New York Times. Porém, afirmou, “os dados não suportam isso com relação ao risco de câncer”.
Há um número crescente de estudos apontando relação entre consumo de álcool e risco de câncer. Mas ainda não há consenso científico sobre a abstinência. No final de 2024, as National Academies of Sciences, Engineering and Medicine, dos EUA, publicaram uma revisão de evidências que reafirmou possíveis benefícios do consumo moderado de álcool, como menor risco de morte por infarto e AVC.
Esse documento também afirma, por outro lado, que beber causa um pequeno aumento (5% a cada drinque diário) no risco de câncer de mama.
Fonte: abril