Um dos maiores mitos que você acreditou ao longo da vida é que um não cai duas vezes no mesmo lugar. A torre de telecomunicações que fica no topo da montanha Säntis, na Suíça, recebe essas descargas elétricas 100 vezes ao ano. Foi lá que pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) da França se instalaram para tentar algo que só Zeus poderia fazer: controlar raios.
Cerca de 100 raios atingem a Terra a cada segundo. O Brasil, inclusive, é o país em que – são 77,8 milhões por ano. Essas descargas causam prejuízos não só materiais e logísticos (no caso de aeroportos, redes de comunicação, etc) como humanos. Dos milhões de raios que caem em solo brasileiro todos os anos, 300 deles atingem pessoas.
Já faz 20 anos que pesquisadores tentam guiar essas descargas elétricas para longe usando feixes de laser apontados para o céu. A ideia surgiu em 1974, e já foi posta em prática em experimentos no México e em Cingapura, mas nenhum deles funcionou. Cientistas do CNRS relataram sucesso pela primeira vez em um estudo publicado no periódico Nature Photonics.
O experimento ocorreu na montanha Säntis, no nordeste da Suíça, entre julho e setembro de 2021. Usando um equipamento posicionado ao lado da torre de telecomunicação, os pesquisadores “atiraram” pequenos pulsos de laser em direção às nuvens durante uma tempestade – e conseguiram desviar quatro raios para longe da torre. Outros 12 raios atingiram a torre quando o laser estava inativo.
Uma das diferenças entre este e os outros experimentos realizados anteriormente é a frequência dos pulsos de luz. O equipamento utilizado em 2021 dispara milhares de pulsos de laser por segundo – bem mais do que os outros dois testes. Daí, alguns desses feixes interceptam o raio antes que ele atinja a torre.
Acontece que faz mais de 270 anos que temos uma tecnologia para evitar essas descargas elétricas: o para-raios. Ele foi inventado em 1752 por Benjamin Franklin, e nada mais é do que uma haste de metal ligada ao chão por um fio. O equipamento posicionado no topo dos prédios atrai os raios e dissipa as descargas elétricas para o solo.
Tanto o para-raios quanto os feixes criam um campo elétrico que atrai os raios. A principal diferença está no preço: enquanto o projeto europeu custou R$ 22 milhões e 5 anos para ser construído, um para-raios comum pode ser comprado por menos de mil reais em qualquer loja de construção.
Os pesquisadores argumentam que o laser não deve substituir o para-raios convencional, e sim aumentar seu alcance. O equipamento protege uma área duas vezes maior que o para-raios, já que atinge alturas maiores. A equipe considera, por exemplo, construir um sistema para proteger os foguetes lançados da base de lançamentos europeia, localizada na Guiana Francesa.
Fonte: abril