Uma pergunta que parece simples, mas na verdade pode ser profunda: quando um animal está dentro de um ovo, ele está vivo? Morto, obviamente, não está. Mas é difícil saber qual o nível de autonomia desses seres, que parecem tão passivos.
Agora, uma nova pesquisa revelou que embriões de algumas espécies de peixes podem controlar ativamente o momento em que sairão dos ovos para nascer. A descoberta revela um mecanismo que era desconhecido e que é essencial para o momento crítico do nascimento do animal.
O processo de eclosão é delicado: emergir muito cedo ou muito tarde pode significar a morte para um animal recém-nascido, despreparado para enfrentar os desafios do mundo exterior. Habilidades que vão desde a respiração até a fuga de predadores – e, portanto, a própria sobrevivência – depende de um timing perfeito.
Surpreendentemente, esse momento é ditado pelo próprio embrião – e agora sabemos como. O mecanismo acontece por meio de um neuro-hormônio, o TRH, que desencadeia a produção de outro hormônio, a tirotropina, que aí sim estimula a liberação de enzimas capazes de dissolver a parede do ovo.
O circuito neural envolvido nessa série de processos se forma pouco antes do evento e desaparece logo em seguida. Sem o TRH, os embriões não conseguem dissolver os ovos e nascer. O mecanismo foi identificado no peixe-zebra (Danio rerio), mas o achado não vale só para essa espécie.
“O TRH também ativa a eclosão em uma espécie de peixe distantemente aparentada, que se separou há mais de 200 milhões de anos”, escreveram os autores no artigo publicado hoje (5) na revista Science. “Nossos resultados revelam um circuito neuroendócrino evolutivamente conservado que controla um importante evento da vida em espécies de peixes ovíparos.”
As descobertas têm grandes implicações para o estudo da evolução. Isso porque elas explicam o funcionamento do mecanismo neuronal que controla a eclosão no maior grupo de vertebrados vivos. No futuro, os pesquisadores planejam explorar como o TRH e outros fatores neuroendócrinos influenciam a eclosão em outras espécies.
Fonte: abril