Pela primeira vez, pacientes com deficiência visual grave causada por lesões na córnea tiveram sua visão restaurada pelo transplante de células-tronco reprogramadas. O estudo envolveu apenas quatro pacientes, dos quais três tiveram melhoras substanciais por mais de um ano, enquanto em um os resultados foram temporários.
A pesquisa faz parte de um conjunto de pesquisas japonesas que utilizam células tronco pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês). “As células-tronco pluripotentes, como as células-tronco embrionárias, são caracterizadas por sua capacidade de autorrenovação e diferenciação em quase todos os tipos de células do corpo humano.”, escreveram pesquisadores em um comentário na revista Lancet.
Em 2012, a descoberta de como dar características de células embrionárias a células adultas rendeu o Nobel de medicina ao japonês Shinya Yamanaka. O país é referência na tecnologia que tem o potencial de revolucionar a medicina regenerativa.
Para entender melhor, imagine que a camada mais externa da córnea depende de um reservatório de células-tronco. Quando essa fonte se esgota, seja por um trauma no olho, doenças autoimunes ou condições genéticas, a pessoa fica cega.
Os tratamentos para essa condição, que é chamada de LSCD, sigla em inglês para deficiência de células-tronco límbicas, são limitados. Se a pessoa ainda tiver um olho saudável, células-tronco podem ser obtidas e transplantadas, em um procedimento invasivo e incerto.
Quando ambos os olhos são afetados, a melhor opção pode ser o transplante de córnea de um doador falecido. Mas essa opção tem mais risco de rejeição pelo sistema imunológico do receptor.
Mas esta pesquisa recente, publicada no dia 7 na revista Lancet, é a primeira a testar as células IPS para o transplante de córnea. Eles pegaram células sanguíneas de um doador saudável e as reprogramaram para um estado semelhante ao embrionário, depois as transformaram em uma folha fina e transparente de células epiteliais da córnea.
Essa folha foi colocada em apenas um dos olhos de duas mulheres e dois homens com idades entre 39 e 72 anos, que tinham LSCD em ambos os olhos. Após os transplantes, todos os quatro receptores apresentaram melhorias imediatas em sua visão e uma redução na área da córnea afetada.
As melhorias persistiram em todos os receptores, com exceção de um, que apresentou pequenas reversões durante o período de observação de um ano. Essa operação aconteceu há dois anos, e nenhum dos receptores apresentou efeitos colaterais graves. Um dos riscos conhecidos do uso de células IPS é a formação de tumores, algo que não ocorreu.
Da mesma forma, o sistema imunológico dos receptores não atacou os transplantes, mesmo em dois pacientes que não receberam medicamentos imunossupressores.
Entretanto, os autores destacam que o estudo é muito limitado, especialmente pelo pequeno número de participantes. Assim, não é possível chegar a conclusões sobre seguranças e nem sobre as razões para a diferença de resultado nos pacientes.
Fonte: abril