EUA finalmente autorizam o retorno de microlaboratório da empresa Varda Space Industries – que ficou oito meses em órbita, e carrega um medicamento produzido na ausência de gravidade
A cápsula, que se chama Winnebago-1, caiu no deserto de Utah às 16h40 da última quarta-feira (18h40 de brasília). Dentro dela, que pesa cerca de 100 kg, há cristais de ritonavir, um medicamento que desde os anos 1990 é usado para tratar a infecção pelos vírus da Aids e da hepatite C. Mas não qualquer ritonavir: trata-se do primeiro remédio sintetizado no espaço.
A missão foi conduzida pela startup americana Varda Space Industries, que construiu a cápsula. Ela contém um minilaboratório robótico capaz de misturar substâncias para criar novos compostos. A suposta vantagem disso é que no espaço, como quase não há gravidade, as reações químicas tendem a formar cristais maiores e com menos defeitos.
Em tese, a fabricação no espaço pode render medicamentos mais puros e potentes. Essa possibilidade já vem sendo estudada pela indústria farmacêutica – em 2019, a americana Merck (MSD) fez uma experiência na Estação Espacial Internacional para avaliar o efeito da microgravidade sobre o anticorpo monoclonal pembrolizumab (que é comercializado com o nome Keytruda, e usado para tratar câncer).
A cápsula da Varda Space foi ao espaço em 12 de junho do ano passado, num foguete da SpaceX, e deveria ter voltado à Terra em setembro – mas, inicialmente, os EUA vetaram o retorno. A Força Aérea americana alegou que a empresa não havia atendido a todos os requisitos de segurança.
Agora, ela fez isso – e a Winnebago-1 obteve permissão para reentrar na atmosfera e voltar à Terra. A região escolhida para ela cair, em Utah, é uma área militar (antes de se acertar com as autoridades americanas, a Varda chegou a assinar um acordo para fazer o pouso na Austrália). A empresa vai analisar os cristais para ver se deu tudo certo, e o ritonavir espacial tem a ação farmacológica esperada.
A Varda pretende começar a produção de medicamentos em escala comercial, com cápsulas indo e voltando do espaço todos os meses, em 2026. A tecnologia também pode servir para a fabricação de semicondutores (chips de computador).
Fonte: abril