Você já deve ter visto aqueles vídeos virais de cachorros “falando” por meio de botões sonoros. Os animais parecem aprender algumas palavra simples para se expressar aos humanos. Dá uma olhada:
A questão é: esses cães estão realmente se comunicando ou apenas respondendo a sinais decorados de seus donos? Um novo estudo publicado na revista PLOS ONE traz uma resposta interessante: parece que esses pets entendem mesmo o que estão “dizendo”.
Na história da evolução dos cachorros, a amizade com humanos não aconteceu por acaso. A criação de um vínculo de cooperação foi proveitosa para a sobrevivência de ambas espécies, visto que os lobos (e futuramente cães) ofereciam proteção aos humanos enquanto ganhavam acesso a comida. Desde então, o “melhor amigo do homem” assumiu um papel nobre nas relações familiares e plantou nos humanos um desejo que até então parecia inalcançável: conversar com nossos cães.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego, liderados pelo professor Federico Rossano, descobriram que cães treinados para usar botões sonoros conseguem entender palavras específicas e responder de maneira adequada ao contexto.
Isso significa que, quando esses animais ouvem ou sinalizam palavras como “brincar” ou “lá fora”, eles não estão apenas reagindo à presença ou ao comportamento de seus donos, mas realmente processando o significado dessas palavras.
O que são botões sonoros?
Os botões sonoros para cachorros são uma adaptação de aparelhos usados com pessoas não verbais. Batizado de Dispositivos de Comunicação Interespécies Aumentados (DCIA). Esses botões lembram os lexigramas utilizados em estudos com primatas – que, ao serem pressionados, emitem palavras pré-gravadas. Com o tempo, estudos mostram que os cães podem aprender e entender mais de 150 comandos transmitidos por esses instrumentos.
Meu cachorro fala?
Estudos sobre a comunicação com animais não são novidade. Mas Brian Hare, fundador do Centro de Cognição Canina da Duke University explica que a concentração dessas pesquisas no potencial comunicativo dos cachorros é recente.
“A virada de chave ocorreu quando começaram a usar métodos desenvolvidos para crianças com cachorros, para entender o mundo social canino”, explica Hare no documentário da Netflix “Dentro da Mente de um Cachorro“.
Foi assim que surgiu a ideia de usar os botões de som. Rossano relata que o estudo sobre a comunicação e entendimento de comandos, por meio de DCIA, já conta com 10 mil cães em 47 países.
Os cães que estão inseridos há mais tempo nesse teste já possuem a compreensão de quase 160 comandos, e conseguem construir perguntas e respostas aos seus donos. Parker, a cachorrinha do professor, usa os botões desde os seus seis meses e está em um nível avançado de “fala”.
“Ela combina três, quatro botões, produzindo uma frase inteira de diálogo e novos conceitos”, disse o pesquisador. Rossano exemplifica mostrando um vídeo de Parker “comentando” sobre o som feito por uma ambulância passando na rua, ela aperta dois botões: um que diz “barulho” e um que diz “carro”.
O que diz o estudo?
A nova pesquisa relata um experimento realizado em duas fases complementares. Na primeira, pesquisadores visitaram as casas de 30 cães nos Estados Unidos, para que pudessem observar suas respostas aos botões sonoros vindos de uma pessoa desconhecida. A segunda fase ocorreu remotamente: os donos pressionavam os dispositivos e enviavam um vídeo da reação dos animais para serem analisados.
A análise mostrou que os cães eram mais propensos a realizar comportamentos relacionados a brincar após ouvirem o som “brincar” e demonstravam ações ligadas a sair ao ouvirem uma palavra que indicava “ir para fora”.
“Isso demonstra que os cães são, no mínimo, capazes de aprender uma associação entre essas palavras e seus resultados no mundo”, disse a autora principal, Amélia Bastos.
Além disso, conclusões indicam que mesmo quando um experimentador desconhecido pressionava os botões, os cães respondiam de forma adequada ao contexto, sugerindo que esses animais não dependem de pistas não intencionais vindas dos donos para realizarem os comandos, mas sim dos sons das palavras associadas aos aparelhos.
Rossano ressalta que este é apenas o começo de uma investigação mais profunda. Agora o pesquisador pretende ir atrás de explorar como os cães utilizam esses botões de forma espontânea, analisando o significado e sistematicidade por trás das sequências de pressões dos botões, procurando entender mais sobre as capacidades cognitivas e de comunicação dos cachorros.
Fonte: abril