📝RESUMO DA MATÉRIA
- Estudos recentes na Austrália mostram um aumento significativo nos casos de intoxicação por GHB, com visitas aos departamentos de emergência crescendo 114% entre 2015 e 2020. A gravidade dos casos também está aumentando.
- O GHB, um composto natural do cérebro, possui usos médicos legítimos, mas muitas vezes é abusado para fins recreativos. Ele possui uma janela terapêutica estreita, o que torna os riscos de overdose elevados.
- O uso combinado de GHB com outras substâncias, em particular a metanfetamina, é comum e aumenta os riscos à saúde. Muitos usuários não relatam todas as substâncias usadas devido ao estigma ou a conceitos equivocados.
- Os sintomas de overdose de GHB incluem sonolência, letargia e podem progredir para coma e depressão respiratória. Felizmente, a maioria dos pacientes se recupera rápido.
- Estratégias naturais para melhorar o sono sem o uso de substâncias como o GHB estão incluídas abaixo.
🩺Por Dr. Mercola
O gama-hidroxibutirato (GHB) é um composto natural presente no cérebro, envolvido em processos fisiológicos importantes, como a regulação do sono e o tônus muscular. Como neurotransmissor fisiológico, o GHB tem sido explorado por seu potencial terapêutico no sistema nervoso central (SNC), em especial no tratamento de condições como abstinência de álcool e distúrbios do sono.
Infelizmente, apesar de suas aplicações médicas legítimas, o GHB ganhou destaque pelos motivos errados, sendo usado de forma recreativa por seus efeitos eufóricos e sedativos, o que levou a ser conhecido como a “droga do estupro” ou “ecstasy líquido”.
Por ter uma janela terapêutica estreita, ou seja, a linha entre uma dose que produz os efeitos desejados e uma que leva à overdose é bem tênue, seu uso indevido pode ter consequências graves e com potencial letal, como evidenciado por estudos recentes na Austrália.
Estudo recente na Austrália revela tendência crescente de intoxicação por GHB
Um estudo publicado em abril de 2024 na Emergency Medicine Australasia analisou dados coletados de 2012 a 2021 em quatro grandes hospitais em Sydney para avaliar tendências em relatos de exposição ao GHB. Os pesquisadores descobriram que, de 2015 a 2020, as visitas ao pronto-socorro relacionadas à intoxicação por GHB aumentaram de 228 para 729 casos por ano, representando um aumento de 114%.
Embora os homens ainda representem a maioria dos casos, o número de mulheres que apresentam intoxicação por GHB aumentou de forma significativa, de 27,9% em 2012 para 37,8% em 2021. O estudo também destacou que o grupo de 25 a 34 anos representou com consistência a maior proporção de apresentações relacionadas ao GHB, com uma queda notável observada em pessoas afetadas com idades entre 16 e 24 anos durante o período do estudo.
Uma preocupação particular é a gravidade crescente da intoxicação por GHB. Os pesquisadores notaram um aumento significativo nos casos classificados como de alta urgência (categoria de triagem 1), sugerindo que as emergências relacionadas ao GHB estão se tornando mais graves e com potencial fatal.
A maioria desses incidentes ocorreu entre meia-noite e 4 da manhã, coincidindo com os horários típicos da vida noturna. Os autores observaram que essas descobertas refletem tendências observadas em outras partes da Austrália e no mundo. Eles concluíram:
“O aumento no número e na gravidade das overdoses de GHB em NSW [New South Wales] … pode estar relacionado ao aumento do uso concomitante de GHB e metanfetamina, e às mudanças demográficas, com aumento de apresentações de overdose entre mulheres.
Há uma necessidade urgente de entender os fatores psicológicos, sociais e do mercado de drogas subjacentes a esses aumentos para desenvolver estratégias mais eficazes de redução de danos e prevenção de overdose”.
Em contraste, dados da Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde dos EUA de 2015-2020 mostram que apenas 0,05% dos adultos relataram uso de GHB no ano passado. No entanto, essa pesquisa também destacou que o uso de metanfetamina, cetamina e ecstasy no ano anterior são fortes preditores do uso de GHB, sugerindo uma correlação entre o GHB e outras substâncias, o que é consistente com as descobertas do estudo australiano.
Os sintomas de overdose de GHB, em geral, começam com sonolência e letargia, que podem progredir para coma e depressão respiratória. Espasmos musculares e convulsões também podem ocorrer. Felizmente, a recuperação costuma ser rápida e não requer tratamentos específicos, com a maioria dos pacientes recuperando a consciência em poucas horas. No entanto, é importante monitorar as vias aéreas da pessoa e fornecer suporte respiratório, se necessário.
Mais informações sobre o uso de GHB
Um estudo anterior publicado em março de 2024 na Drug and Alcohol Review explorou ainda mais a tendência crescente de intoxicações por GHB e forneceu insights adicionais sobre o contexto mais amplo do uso de drogas na Austrália. Esta pesquisa se concentrou na frequência e nos efeitos da exposição ao GHB em combinação com outras substâncias, em particular a metanfetamina. Como observado pelos autores do estudo:
“A co-exposição a múltiplas drogas em casos de intoxicação por GHB foi relatada e pode influenciar a apresentação clínica de maneira significativa. O uso concomitante de GHB com outros depressores do SNC (por exemplo, álcool e benzodiazepínicos) aumenta o risco de depressão respiratória grave e coma, enquanto o uso de GHB em combinação com psicoestimulantes (por exemplo, metilanfetamina) aumenta o risco de complicações cardiovasculares e convulsões”.
De acordo com suas descobertas, é alarmante o quão comum é o uso combinado de GHB e metanfetamina, com a metanfetamina detectada em 82,2% dos casos confirmados de GHB. Os autores também destacaram que muitos indivíduos que utilizam GHB com outras drogas não estavam relatando todas as substâncias usadas, seja devido ao estigma ou porque percebiam o GHB como a causa primária de seus sintomas.
Além disso, o estudo examinou os padrões emergentes do uso de GHB além dos ambientes tradicionais de vida noturna. Foi relatado que o GHB está sendo cada vez mais usado como um mecanismo de enfrentamento ao estresse, em vez de apenas para fins recreativos. Essa mudança nos padrões de uso pode explicar o número crescente de usuárias e os diversos tempos de apresentação observados em outros estudos.
Essas descobertas ressaltam a importância de uma triagem toxicológica abrangente e demonstram que o GHB em si não é, por si só, ruim. Em vez disso, é o uso indevido e a falta de compreensão sobre seus efeitos que podem representar riscos significativos.
A controvérsia por trás do GHB
Em um artigo escrito por um convidado, A Midwestern Doctor, ele abordou a história do GHB. Desenvolvido em 1874, ele foi usado como anestésico intravenoso em 1964. Ele diminui a frequência cardíaca sem afetar a pressão arterial, irritar as veias ou suprimir a respiração. Ele também ajuda no relaxamento muscular, induz o sono sem diminuir os níveis de oxigênio e protege os tecidos contra danos.
Apesar desses benefícios e da ciência que respalda seu uso, o GHB enfrentou um grande revés na década de 1990. À medida que ele ganhou popularidade, sobretudo entre fisiculturistas, a Food and Drug Administration (FDA) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA começaram a destacar seus riscos, muitas vezes exagerando os perigos.
Mais tarde, o GHB foi banido pela FDA e desacreditado como uma droga perigosa ligada à agressão sexual, ofuscando seus reais benefícios. O interessante é que sua versão farmacêutica, conhecida como oxibato de sódio (Xyrem), continua legal.
Outra formulação de GHB chamada oxibato de baixo teor de sódio, que contém 92% menos sódio do que o oxibato de sódio, também foi aprovada nos EUA para tratar narcolepsia e hipersonia idiopática. De acordo com um estudo publicado na Nature and Science of Sleep:
“O LXB [oxibato de baixo teor de sódio] é um tratamento promissor de longo prazo para narcolepsia e hipersonia idiopática, demonstrando eficácia em sintomas como SED [sonolência diurna excessiva], cataplexia e inércia do sono, com um perfil de segurança consistente com o de SXB [oxibato de sódio] na narcolepsia”.
Esses medicamentos são muito caros. O preço do oxibato de sódio varia de US$ 60.000 a US$ 100.000 por ano, deixando muitos pacientes sem condições de pagar pelo medicamento, apesar de seus benefícios para diversas condições. Recomendo a leitura do artigo do convidado na íntegra para saber mais sobre a história e o impacto do GHB.
Estratégias para melhorar seu sono sem recorrer a medicamentos
Se há algo de bom em proibir o GHB e tornar seus medicamentos prescritos mais caros, é que isso incentiva as pessoas a focarem em tratar as causas raízes da falta de sono de maneira natural, em vez de depender apenas de medicamentos. Aqui estão algumas estratégias para ajudar você a adormecer mais rápido e desfrutar de um sono de qualidade:
Fonte: mercola