A Ubisoft está num momento difícil. Depois da má recepção de Skull & Bones, no qual a empresa investiu centenas de milhões de dólares, Prince of Persia: The Lost Crown e Star Wars Outlaws não venderam o suficiente. Tanto que a empresa dissolveu a equipe do primeiro (os desenvolvedores foram transferidos para outros projetos) e citou o segundo, cujas vendas ela classificou como “mais suaves” do que o esperado, como razão para postergar Assassin’s Creed Shadows – que iria sair em 2024, mas foi adiado duas vezes. Nos últimos seis meses, as ações da Ubisoft caíram 40%.
É nesse cenário que AC Shadows finalmente será lançado, para PlayStation, Xbox, PC e Mac, no dia 20 de março. Ele é uma cartada decisiva para a multinacional francesa – que pode reencontrar o caminho do sucesso ou ver sua crise se agravar, e acabar vendida para a chinesa Tencent. Por enquanto, está mais para a primeira possibilidade: AC Shadows parece ótimo.
Joguei por quatro horas, num preview dividido em dois cenários: o início da história, na Quioto do século 16, e uma missão posterior em Harima. Você começa como Diogo, um escravizado que os portugueses levam para o Japão e acaba transformado em Yasuke, um samurai. Ativei o “modo imersivo”, no qual os diálogos são falados em português (de Portugal) e em japonês, com legendas.
O enredo é interessante, com elementos históricos reais, e as cutscenes (os “filminhos” do jogo) são bastante elaboradas, com boas atuações e animações de alta qualidade. Alguns diálogos são longos demais – mas, em certos momentos, você pode escolher o que vai responder, o que ajuda a manter o interesse. As respostas influenciam as reações dos outros personagens, e podem mudar o decorrer das missões (mas não criam linhas narrativas separadas, nem levam a finais diferentes).
Depois de algum tempo, o jogo apresenta a camponesa -e ninja- Naoe. Você pode jogar com ela, priorizando a furtividade, ou com Yasuke, mais adaptado à luta corpo-a-corpo. Na maior parte do tempo, pode alternar livremente entre os dois.
A julgar pelo preview, AC Shadows tem um pouco mais de combate (ou em evitá-lo) do que os outros jogos da franquia, que eram mais voltados a coletar itens e completar objetivos. E o combate é bom: tem um sistema de ataque e defesa ao mesmo tempo acessível e interessante, com uma quantidade razoável de variações e armas.
AC Shadows também tem outra diferença em relação aos antecessores: segundo a Ubisoft, ele busca “promover a autonomia” do jogador – e por isso nem sempre mostra exatamente onde você deve ir, ou o que deve fazer. Isso é bom, mas também pode ter um lado ruim.
Na segunda metade do preview, em Harima, o jogo deu menos orientação do que seria ideal. Com isso, o objetivo (infiltrar uma base e encontrar uma caixa) se tornou injustamente difícil, especialmente considerando a enorme quantidade de inimigos presentes – uma quebra de stealth tornava a missão quase impossível de concluir.
A versão final de AC Shadows revelará se isso é uma questão pontual, ou se a Ubisoft exagerou um pouquinho no stealth (em Star Wars Outlaws, ela fez isso, e acabou liberando uma atualização para amenizar o problema).
A outra ressalva está nos movimentos dos personagens. A franquia Assassin’s Creed é conhecida pela fluidez: você escala paredes e corre por telhados com desenvoltura. Shadows tem um pouco menos disso. Tudo bem, ser pesado e lento é uma característica de Yasuke – mas, com frequência, mesmo a lépida Naoe tem certa dificuldade.
Parece proposital, uma tentativa de deixar os movimentos mais verossímeis, com os personagens limitados a níveis realistas de força muscular. Mas tira um pouco da fluidez típica de Assassin’s Creed. Novamente: só o jogo completo dirá se isso é ou não um problema, e em qual grau.
No geral, AC Shadows parece bem promissor. Combina uma história interessante, boas atuações, fases envolventes e alto nível de produção. Ainda não se pode cravar que ele será o hit matador capaz de salvar a Ubisoft – mas, ressalvas à parte, dá sinais de que pode chegar lá.
Assassin’s Creed Shadows será lançado em 20/março, para PlayStation, Xbox, PC e Mac.
Fonte: abril