A laqueadura ou ligadura tubária é um procedimento cirúrgico de esterilização para mulheres que não desejam mais engravidar. Para falar sobre o assunto, os ginecologistas Dr. Rogério Tabet (CRM 97801), do Sistema Público de Saúde, e a Dra. Mariana Rosário (CRM SP-127.087), do hospital Albert Einstein, explicaram o que é, quais os tipos e responderam as dúvidas mais comuns sobre a cirurgia.
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O que é a laqueadura?
De acordo com os especialistas, a laqueadura é um método de esterilização da mulher quando ela opta por não ter mais filhos. “A laqueadura cirúrgica tira a propriedade da tuba uterina de levar o óvulo até o útero. Então, o corte da trompa é feito para que o óvulo não faça mais esse caminho”, explicou a Dra. Mariana. O Dr. Rogério complementou informando que a cirurgia “é coberta pelos planos de saúde. Já em clínicas particulares, custa em média 5 mil reais”.
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Tipos de laqueadura explicados pelo ginecologista
O Dr. Rogério informou que há dois tipos de laqueadura: via abdominal e via vaginal. Entenda a diferença entre os métodos:
- Via abdominal: o médico explicou que, via abdominal, é possível realizar dois procedimentos: “a minilaparotomia, por meio de um pequeno corte no local da cesárea; e a videolaparoscópica, introduzindo uma microcâmera na cicatriz umbilical e cortando as duas trompas”.
- Via vaginal: “um estereoscópio é introduzido na vagina até a cavidade uterina e na entrada das trompas direita e esquerda. Então, uma molinha chamada Essure é colocada para obstruir e impedir que o espermatozoide encontre o óvulo”, informou o Dr. Rogério.
Agora que você já conhece os principais tipos de cirurgia, confira quem pode fazer o procedimento!
Quem pode fazer o procedimento
Em 8 de março de 2022, no dia Internacional da Mulher, a Câmara dos Deputados votou e aprovou o projeto de lei que permite a realização da laqueadura sem a autorização do marido. Além disso, a idade mínima para realizar o procedimento passou de 25 para 21 anos.
A Dra. Mariana informou que, segundo a OMS, a mulher deve ter pelo menos dois filhos para fazer a cirurgia. Complementando, o Dr. Rogério explicou que a laqueadura também pode ser autorizada quando “existe risco de vida entre operatórios, por exemplo: se há muita aderência ou se o útero é muito fino com risco de ruptura em gestação anterior”.
Como é feito a laqueadura
O Dr. Rogério explicou que na laqueadura, por minilaparotomia, “é feita uma mini cesariana no local da cesárea para cortar as duas trompas”. Já “por videolaparoscopia, uma microcâmera é introduzida na região da cicatriz umbilical, assim, é feita a cauterização do corte das duas trompas”.
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A laqueadura também pode ser realizada por via vaginal e, segundo o médico, “o esteroscópio é introduzido pela vagina até a cavidade uterina em cada lado do ósteo tubário. Então, uma molinha é colocada para impedir o encontro do espermatozoide com o óvulo”.
Vantagens e desvantagens da cirurgia
Toda cirurgia é uma interferência corporal. Por isso, antes de tomar uma decisão, é importante conhecer o procedimento. A seguir, os ginecologistas apontam as vantagens e as desvantagens da laqueadura. Veja:
Vantagens
- É um método definitivo com taxa de falha em torno de 2% em 10 anos;
- Não introduz hormônio no organismo;
- Não causa efeito colateral em outros órgãos;
- A mulher não precisa se lembrar de tomar o anticoncepcional;
- Não interfere na libido.
Desvantagens
- Caso a mulher se arrependa, é muito difícil reverter;
- Procedimento cirúrgico com riscos anestésicos;
- Riscos de infecções pós-operatório;
- Como em qualquer procedimento cirúrgico, pode haver complicações, por exemplo, aderências e infecções interna;
- Em alguns casos, a mulher pode ter alterações no fluxo menstrual.
A Dra. Mariana destacou que se “a mulher quiser engravidar após a cirurgia, provavelmente, terá que fazer o procedimento de reversão ou fertilização in vitro”. Porém, dependendo do tipo de cirurgia realizada, não é possível reverter.
Recuperação após a laqueadura
De acordo com o Dr. Rogério, quando a laqueadura é feita por laparotomia abdominal, o pós-cirúrgico e a recuperação têm todos os riscos de uma pós-cesariana. Por exemplo, “há riscos de infecção no local e de hematoma, além do mais, a paciente pode ter um pouco de sangramento interno. Mas, geralmente, o tempo de recuperação é de 5 dias em média”.
Já a Dra. Mariana complementou informando que, quando a cirurgia é feita por via vaginal ou laparoscópica, a recuperação é mais tranquila. “Às vezes, em uma semana a mulher já está bem e pode voltar a trabalhar”. Normalmente, a paciente fica no hospital de um a dois dias, caso não haja complicações.
Dúvidas comuns sobre a laqueadura respondidas pelos médicos
É possível engravidar depois da laqueadura?
Rogério Tabert (RT): é um método considerado definitivo, por isso, é necessário passar por todo um procedimento multidisciplinar com psicólogos. Antigamente, a trompa direita e esquerda só eram dobradas e davam um nó. Porém, atualmente, a trompa é cortada e cauterizada, então, as chances de reversão são muito pequenas.
A laqueadura engorda?
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Mariana Rosario (MR): a laqueadura não engorda. As pessoas confundem com a castração animal, por exemplo, na qual o ovário é retirado. Porém, na laqueadura, a trompa é cortada e o ovário é mantido. Então, não induz a pessoa a ter uma menopausa, o que teoricamente pode provocar ganho de peso.
Quanto tempo após o procedimento posso ter relações sexuais?
RT: se for uma cirurgia aberta, como a menilaparotomia abdominal, normalmente pode ter relações sexuais após a recuperação cirúrgica, ou seja, em média 7 dias.
Pode ser feita pelo SUS?
RT: o SUS realiza o procedimento tanto por videolaparoscopia quanto por cirurgia minilaparotomia. Agora, por histeroscópio vaginal, não realiza.
Quais as principais mudanças no corpo da mulher após a cirurgia?
MR: a principal mudança pode ocorrer no fluxo menstrual, porém, não ocorre em todas as mulheres. O fluxo fica mais intenso e a paciente tem mais cólica por conta disso.
O Dr. Rogério informou que “a síndrome descrita como pós-laqueadura pode gerar irregularidade menstrual, além de dor e desconforto pela aderência, porém a incidência não é grande. Portanto, após a cirurgia, a mulher consegue ter uma vida normal, bem como produzir os hormônios”.
5 alternativas para a laqueadura
Se você ainda não tem certeza se deve fazer a laqueadura, existem outras formas para evitar a gravidez. Confira abaixo os principais métodos citados pelos ginecologistas:
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- Pílulas anticoncepcionais: a Dra. Mariana informou que existem “pílulas anticoncepcionais combinadas ou únicas. Ou seja, só com progesterona ou com progesterona e estradiol”. Além disso, o Dr. Rogério mencionou que há pílulas de uso contínuo ou de pausa. “A pílula de uso contínuo é usada em casos específicos onde a mulher não pode menstruar, por exemplo, em casos de endometriose que a mulher sente dor constante ou na TPM também”. Já a pílula de pausa, a mulher fica de 4 a 7 dias sem tomar, dependendo do hormônio e do tipo.
- DIU: segundo o médico, “o DIU de cobre é um dispositivo que libera íons de cobre e pode aumentar o fluxo menstrual e as cólicas”. Já “o DIU de hormônio libera hormônio progesterona, sendo indicado para mulheres que não querem menstruar”. Além disso, a médica citou haver o DIU de cobre com prata que não é hormonal.
- Preservativo: conforme citou a Dra. Mariana, “a camisinha masculina e feminina são dois métodos de barreira que podem ser uma alternativa para prevenir a gravidez.” Ademais, o Dr. Rogério apontou ser um método excelente para evitar doenças sexualmente transmissíveis e ressaltou a importância de saber como usar o preservativo corretamente para ser eficaz.
- Implante hormonal : de acordo com a especialista, “o implante hormonal é um dispositivo colocado debaixo da pele para impedir a ovulação.” O Dr Rogério explicou que o Implanon é colocado subcutâneo na parte interna do braço e dura em média 3 anos, sendo uma opção para quem tem muito escape sanguíneo. Ele citou que “o SUS disponibiliza o método em situações específicas, principalmente quando a paciente tem vulnerabilidade social”.
- Adesivo: aplicado na pele para liberar norelgestromina e etinilestradiol continuadamente. “O Evra deve ser colocado um por semana, com o início da menstruação, e trocado semanalmente por três semanas. Depois disso, é necessário dar pausa de uma semana e, no oitavo dia, volta novamente com adesivo”, explicou o especialista.
Como informado pelos profissionais, a laqueadura é uma cirurgia que pode ser irreversível. Por isso, o procedimento é feito em conjunto com a parte médica, assistência social e com apoio psicológico. Dessa forma, a mulher pode tomar a melhor decisão. Aproveite e saiba mais sobre a fertilização in vitro, uma possibilidade para mulheres que desejam reverter a laqueadura.