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Por que as pessoas insistem em estar certas sem conhecimento completo? Entenda a psicologia por trás desse comportamento.

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Quem tem redes sociais está acostumado com uma cena. Um veículo de notícias posta uma manchete no Facebook, Twitter ou Instagram, com o link para a reportagem completa. Nos comentários da postagem, os usuários começam a dar sua opinião e frequentemente entram em embates agressivos sobre quem está certo. Boa parte das vezes, nenhum deles sequer leu o texto.

Ou pense nas conversas com parentes na mesa de jantar. Os familiares podem divergir fortemente sobre o conflito entre Israel e Palestina, ou sobre as últimas eleições americanas. Os discordantes acham que sabem tudo que precisam sobre determinado assunto – mas esse raramente é o caso.

Em um artigo publicado este ano, pesquisadores da Universidade de Stanford, Ohio State University e Johns Hopkins descrevem a “ilusão de adequação da informação” (illusion of information adequacy, em inglês). Nesses casos, as pessoas acreditam ter toda a informação necessária para embasar uma opinião ou tomar decisões, mesmo quando elas não têm.

Existe um abismo enorme entre como achamos que as coisas são, e como elas realmente são. Acreditamos que nossa visão pessoal e subjetiva é uma representação objetiva da realidade – afinal, aquilo é tudo que conhecemos. Esse conceito é chamado “realismo ingênuo” (naïve realism), e até certo ponto é útil para sobreviver sem precisar questionar tudo ao nosso redor.

Por outro lado, isso abre espaço para diversos vieses cognitivos. Tendemos a superestimar nossas habilidades e conhecimento, desconsiderar perspectivas de outras pessoas e até achar que nossas músicas da juventude eram melhores que as atuais.

A ilusão de que temos informações suficientes sobre determinado assunto é um desses vieses cognitivos. Sócrates já dizia que “não sabemos o que não sabemos”, e os pesquisadores do novo artigo dizem que as pessoas muitas vezes não sabem disso (rs). 

O experimento social

Para demonstrar a “ilusão de adequação da informação”, os pesquisadores entrevistaram 1.262 pessoas dos Estados Unidos, por meio da plataforma online Prolific. Os voluntários leram textos sobre a falta de água em uma escola fictícia. Nessa história hipotética, o aquífero que abastece a região estaria secando.

Uma parte dos participantes leu argumentos que defendiam que a escola deveria se juntar com outra. Outro grupo leu razões pelas quais a escola deveria continuar separada, e esperar por mais chuva no futuro. E um terceiro grupo teve acesso aos argumentos dos dois lados.

A maior parte das pessoas dos dois primeiros grupos (pró-fusão e pró-independência) acreditavam ter informações suficientes para tomar uma decisão sobre o futuro da escola. 88% dos participantes que leram o texto pró-fusão, de fato, votaram pela fusão da escola – enquanto apenas 23% do grupo que leu o texto pró-independência optou pelo mesmo. Dentro do grupo controle, que leu as duas argumentações, 55% dos participantes optou pela fusão da escola.

Os participantes também responderam o quanto eles acreditavam que as outras pessoas tomariam a mesma decisão que eles. 62% do grupo controle achou que os outros participantes chegariam à mesma conclusão, em comparação a 65% do grupo pró-independência e 68% do grupo pró-fusão. Na psicologia, esse efeito é chamado de “viés do falso consenso”, em que as pessoas superestimam o quanto os outros compartilham de suas visões e valores.

“As pessoas presumem que possuem informações adequadas – mesmo quando falta metade da informação relevante, ou quando estão perdendo um ponto de vista importante”, os autores escrevem no artigo publicado no periódico PLOS ONE

Após darem suas sugestões iniciais, os grupos pró-fusão e pró-independência tiveram acesso a todos os argumentos. Para a surpresa dos pesquisadores, as pessoas estavam dispostas a mudar de opinião após ler a versão completa do texto. No final, a taxa de pessoas a favor da fusão nos dois grupos se aproximou à do grupo controle.

“Apesar de as pessoas não saberem o que não sabem, talvez haja sabedoria em assumir que alguma informação relevante está faltando”, escreve a equipe. “Em um mundo de polarização e informações dúbias, essa humildade – e curiosidade em saber qual informação está faltando – pode nos ajudar a entender a perspectiva de outros antes de julgá-los”.

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Fonte: abril

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