A adolescência é uma fase marcada por mudanças psicológicas, físicas e sociais, na qual o indivíduo deixa de ser criança e se prepara para a vida adulta. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), este período ocorre entre os 10 e 20 anos. Segundo a hebiatra Andrea Hercowitz, do Centro de Especialidades Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein, o adolescente tem como objetivo buscar sua identidade adulta e independência. Para isso, experimenta diferentes comportamentos, relacionamentos, roupas e outros para, entre erros e acertos, estruturar sua personalidade.
Outra característica desta fase é a necessidade de afastamento ideológico dos adultos, “como forma tanto de autoafirmação como indivíduo capaz, quanto para ter mais espaço para essa busca de si mesmo”, afirma Andrea, que também é membro do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Por outro lado, há uma aproximação de outros adolescentes, que passam a ser a grande referência. “É um momento de muita curiosidade e insegurança, por isso estão sempre procurando um padrão dentro de seu grupo de amigos e nas redes sociais, sendo a comparação inevitável”, acrescenta a hebiatra.
A psicóloga e psicopedagoga Melina Blanco Amarins destaca que na adolescência o processo de construção da autoimagem é intensificado e a estrutura familiar também tem influência direta na formação psíquica do indivíduo. “A forma como os pais lidam com sua própria imagem pode afetar a visão do adolescente. Assim, se a mãe, por exemplo, apresenta conflitos com seu próprio corpo, tem grande probabilidade de a filha também apresentar essa distorção”, explica a especialista, que faz parte do setor Materno-Infantil e do Ambulatório de Clínica de Especialidades Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein.
Soma-se a este cenário o espaço e o poder que as redes sociais ganharam nos últimos tempos. Para Andrea, a mídia assumiu um papel importante na visão que estes indivíduos têm de si mesmos e pode, inclusive, desencadear transtornos psíquicos. Melina observa que o mundo virtual serve de fuga do mundo real e o adolescente se protege das críticas e da exposição de suas fragilidades por meio das telas. “Se ele começar a se privar do mundo real e somente ter interesse no virtual, pode desenvolver uma depressão, visto que não consegue manter as reações sociais e se isola diante das pessoas de forma presencial, se fechando e se isolando cada vez mais”, salienta a psicóloga.
Amor dos pais é fundamental
A empresária A.K., de 48 anos, mãe de duas meninas, uma de 18 e outra de 14, conta que a caçula passou por uma situação que afetou sua autoestima. Durante uma aula da escola, o professor fez uma avaliação de peso dos alunos e a adolescente sentiu que sua intimidade foi invadida ao ter que se pesar na frente dos colegas. Por não fazer parte do padrão de beleza estabelecido por outras adolescentes naquele ambiente, ela sofreu com o preconceito.
“Ela chegou muito chateada e com vergonha. Mas com muito tato e conversa mostramos que o que importa é ela se amar, que nós a amamos e que esta é uma fase de transição. O peso é importante? Talvez, mas o que importa é ter saúde e pessoas ao teu lado que te amam como você é”, acredita. No ano seguinte, a mudança de colégio e as novas amizades ajudaram a superar o episódio e hoje ela se sente mais confiante. “A adolescência é um período de transição e logo a transformação acontece. Hoje, ela tem uma autoestima muito grande e é linda, adora se arrumar”, relata a empresária.
Somos únicos
A hebiatra Andrea destaca que os rígidos padrões de beleza, valores ou comportamentos aumentam a pressão sentida pelos adolescentes e podem causar, além de quadros depressivos, baixa autoestima, ansiedade, transtornos alimentares e autoagressão. Os pais devem estar atentos a sinais comportamentais e físicos, como uso de roupas largas para esconder o corpo, magreza ou obesidade excessivas, ferimentos frequentes, irritabilidade, isolamento social, sonolência excessiva ou insônia e piora no rendimento escolar. “É preciso deixar claro aos adolescentes que todos os indivíduos são diferentes e que essa é a beleza do ser humano: sermos únicos. Exigir um padrão rígido de corpos, de beleza e de comportamento social é uma agressividade que não deve ser entendida como regra, ao contrário, é algo a ser combatido”, orienta.
Ao detectar algum sinal de mudança, os pais devem buscar o diálogo para entender o que está acontecendo e quais as causas. “O auxílio se dá a partir da escuta, da aproximação com seu filho e da compreensão de possíveis pedidos de ajuda. Os pais devem ser parceiros dos filhos e buscar ajuda profissional quando necessário”, ressalta a psicóloga Melina. A especialista afirma ainda que uma família estruturada é fundamental, pois é necessário ter autoridade para dar limites, acolhimento e afetividade e não deixar que os relacionamentos se percam, especialmente por causa do mundo virtual.
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Fonte: semprefamilia.com.br