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Embora não percebamos, muitos de nós usamos estratégias diferentes para evitar nos conectarmos com nós mesmos ou com o meio ambiente. Tentamos evitar nos conectar com nossas emoções e necessidades e com a situação diante de nós, e provavelmente o fazemos há décadas. Esses mecanismos inconscientes que nos permitem isso foram estudados e descritos de acordo com suas características, e hoje queremos falar com você sobre um deles: a confluência.

Imagine aquela criança, calma e obediente, que se tornou uma extensão dos pais. Pense naquele casamento em que tudo é cordialidade e protocolo. Pense naquela pessoa que busca, a todo custo, conciliar e concordar com as opiniões do grupo. Com certeza algumas dessas situações lhe são familiares e, em todas elas, está operando essa dinâmica de confluência.

Menino triste olhando pela janelaMenino triste olhando pela janela
Na confluência, apaga-se o limite entre um e os demais; a pessoa não se sente de forma individual.

Mecanismos neuróticos

A confluência tem sido descrita como um dos mecanismos neuróticos propostos desde a psicoterapia Gestalt. Esses são mecanismos de defesa que as pessoas acionam inconscientemente para se defender de um ambiente que percebemos como hostil ou carente. Como a situação ameaça o equilíbrio psicológico, essas ferramentas inconscientes nos ajudam a manter o equilíbrio.

Devemos ter em mente que cada pessoa faz parte de um ambiente com o qual deve entrar em contato para satisfazer suas necessidades. Fazemos isso com base em três pontos: saber do que precisamos, saber quais elementos externos podem nos ajudar e entender quando nos aproximar ou nos afastar deles.

Quando nos sentimos confiantes e nossas ações estão funcionando, desenvolvemos um comportamento “normal”. Por outro lado, quando a relação com o ambiente é conflituosa ou malsucedida, experimentamos uma série de emoções negativas e optamos por desviar nossa energia na forma de um desses mecanismos inconscientes.

Essas tendências já se desenvolvem na infância, quando o ambiente não oferece as condições adequadas para o crescimento e desenvolvimento. A criança que cresce em um ambiente ameaçador, cercada de perigo ou que vive em um ambiente carente que não atende às suas necessidades, desenvolve esses mecanismos para sobreviver, física e psicologicamente.

Até certo ponto, eles são úteis, pois cumprem sua missão. No entanto, quando se tornam excessivamente rígidos ou são usados sem que se perceba o que está acontecendo, podem afetar o bem-estar e os relacionamentos. E mais, quando continuam a ser usados na idade adulta, em situações que nada têm a ver com aquela em que se originaram, podem ser muito limitantes.

O que é confluência?

A confluência é um desses mecanismos de defesa e surge quando a pessoa não está em contato consigo mesma, com suas experiências, desejos, opiniões ou necessidades e, ao invés disso, se alia às necessidades ou ideologias do outro. De alguma forma, a fronteira entre si e o resto é apagada e a diferença não é apreciada.

A pessoa que tende à confluência perdeu o sentido de si mesma, não consegue perceber e sentir individualmente e procura comungar plenamente com quem está à sua frente. Ela perde sua identidade e alia-se, sem questionar, aos desejos, opiniões ou emoções do outro, confundindo-os até com os seus.

Embora pareça excessivo, esta é uma realidade que vivenciam mais pessoas do que imaginamos. Aqui estão alguns exemplos de confluência:

  • Aceitamos, sem questionar, as opiniões ou propostas de nosso parceiro sobre o relacionamento. Por exemplo, se o outro expõe seu desejo de ter um relacionamento aberto, aderimos a essa ideia sem nos perguntar se é algo que realmente queremos, buscamos ou nos convém.
  • Estando em grupo, não somos capazes de dar nossa opinião sobre um assunto até vermos o que os outros pensam. Bem, nosso objetivo será comungar com os outros.
  • Apesar de não sentir fome, comemos com outra pessoa porque ela nos pede ou nos propõe. Ou, em outros casos, apesar de não querer consumir álcool, o fazemos para nos juntarmos ao resto.
  • Para nossas decisões diárias precisamos de aprovação externa. Nossa maneira de vestir, nosso penteado ou a maneira como passamos nosso tempo livre não é baseada no que realmente gostamos ou queremos, mas no que os outros consideram correto ou “na moda”.
  • Misturamo-nos excessivamente com as emoções alheias, não acompanhando com a empatia, mas deixando-nos invadir e transbordar por aquela emoção ou necessidade do outro até torná-la nossa.

Sair da armadilha da confluência

Embora todos nós usemos essa dinâmica em algum momento, quando a confluência é patológica ela nos coloca em uma posição muito vulnerável. Se não sabemos quem somos e até onde chegamos, se não sabemos impor limites, questionar os outros ou reconhecer nossas próprias necessidades e desejos, é provável que caiamos em relacionamentos dependentes, abusivos e nocivos.

Porém, para sair dessa armadilha inconsciente é preciso entender como surge a confluência. Ela vem de um aprendizado precoce onde não nos foi permitido ser. Aquele em que fomos ensinados que diferir ou ter nossa própria voz ou pensamento levaria a sermos rejeitados ou abandonados.

Talvez, quando crianças, tenhamos crescido em um lar onde não podíamos expressar emoções de raiva, raiva, tristeza ou frustração; e, ao fazê-lo, ou ao minimamente desobedecer, os pais retiravam o afeto ou nos agrediam. Talvez tenhamos sofrido bullying e rejeição por parte de nossos colegas na escola ou tenhamos sido duramente criticados no início.

Isso gera um desligamento de si mesmo, para poder se adaptar ao que os outros querem e evitar a rejeição, a solidão ou a agressividade. No entanto, por não sabermos quem somos ou o que queremos, sentimos um vazio que procuramos preencher juntando-nos aos outros, lançando-nos na relação com os outros.

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A confluência é um mecanismo que vem do aprendizado na infância em que não nos foi permitido ser.

Comece a prestar atenção em você

Como você pode imaginar, essa tendência pode ser muito dolorosa e ter consequências muito negativas para qualquer adulto. Portanto, se quisermos acabar com essa dinâmica, precisamos parar de evitar esse contato conosco e passar a promovê-lo.

Em vez de reprimir o que sentimos, devemos começar a nos questionar em todas as situações. Temos que questionar as opiniões dos outros antes de assumi-las como nossas. Em suma, trata-se de começar a prestar atenção a nós mesmos, a recuperar essa identidade e esses limites que perdemos por medo de sermos rejeitados.

Claro, este não é um trabalho fácil e requer prática e perseverança, depois de anos desconectados. Além disso, pode ser muito necessário elaborar essas experiências anteriores que nos levaram a desenvolver esse mecanismo de defesa. Portanto, se você se sentir identificado, não hesite em buscar acompanhamento profissional.

Fonte: amenteemaravilhosa

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