Sou da opinião de que não somos seres frágeis, mas há parte de nossa cultura que nos mima demais.
O ego nos faz importar demais. A superproteção de nossos pais bloqueia nossa capacidade de assumir a responsabilidade. A busca por eficiência nos torna negligentes com os perigos.
Tenho refletido bastante sobre isso nos últimos tempos e quero compartilhar com você hoje aqui um pouco sobre o que nos faz ser frágeis.
Existe um livro do Nassim Taleb chamado antifrágil, mas não é sobre esse tipo de fragilidade necessariamente que estou falando. No entanto, passamos também por alguns dos conceitos do livro.
Para iniciar essa reflexão vou compartilhar dois momentos da minha vida que contribuíram para as ideias sobre fragilidade.
Arte marcial
Quando eu tinha 12 anos de idade comecei a praticar Karate. Foi uma experiência incrível. Me tornei professor depois de vários anos treinando e até hoje é uma paixão.
Naquela época eu era um menino baixinho e gordinho. Com autoestima baixa e filho de pais que me protegiam bastante, mas que também me deixavam explorar o mundo até certo ponto.
Porém, eu era do tipo de pessoa que não se esforçava muito para vencer obstáculos difíceis. Se a coisa ficava difícil demais, eu acabava desistindo. Justificativas plausíveis eram abundantes para não dormir fora de casa, para não estudar coisas chatas ou para não jogar mais futebol (esporte que trainava antes do Karate).
A diferença a partir daquele momento é que eu tinha professores/mestres que não queriam saber se eu estava com dor, cansado ou não gostando. Eles achavam jeitos de me colocar pra frente e enfrentar os desafios físicos e mentais da arte marcial.
A cada dia, depois de 500 abdominais, dores por socos e chutes e 1 hora e meia de treinos exaustivos, o músculo da força de vontade foi se fortalecendo juntamente com os músculos do corpo. Aprendi o significado de resiliência.
Ao mesmo tempo, existe uma lógica na arte marcial que é a de que sempre podemos aprender mais e nos aperfeiçoar. É a busca pela perfeição que nunca chegará.
Isso dá lugar à humildade. Entender que não importa o quão acreditamos em nós mesmos, não somos os melhores que ninguém.
Empreendedorismo
Passados uns bons anos, depois que me formei na universidade, comecei a empreender. Criei vários projetos e todos falharam de um jeito ou de outro.
Felizmente, o músculo da força de vontade ainda estava bem tonificado, então me reergui a cada caída pra tentar algo novo.
No entanto, ao colocar meus projetos na internet publicamente, me vi tendo que lidar com outro tipo de situação: o que as pessoas pensam sobre mim.
O ego.
Aproveitando dos ensinamentos sobre humildade, tentei me isolar das opiniões, mas não estava fácil. No entanto, depois de viver momentos estressantes e dor de cabeça constante por causa desse estresse, tomei a decisão de focar apenas naquilo que é realmente importante.
Para cada um de nós o que é realmente importante é diferente. Para mim, foi focar nas experiências que desejava ter na vida, nos relacionamentos com as pessoas e no meu bem estar físico e mental. Fazer isso fez com que as opiniões alheias fossem menos importantes.
Para que vou me importar se uma tia acha que eu deveria ter um emprego fixo se estou viajando o mundo enquanto trabalho 4h por dia?
Para que vou me importar no que um desconhecido fala sobre meu jeito de falar se tenho uma esposa que me ama?
Para que vou me exaltar com uma batida de carro se eu não saí machucado do acidente?
Colocar as coisas as coisas em perspectiva facilita dar as devidas importâncias.
Inclusive no âmbito profissional, hoje eu prefiro atrasar a entrega de um trabalho do que comprometer um desses princípios acima.
Não me considero um profissional ruim por isso, mas sim uma pessoa que cada vez mais está assumindo a responsabilidade pela vida.
Limitações
Os relatos acima não indicam necessariamente que eu hoje eu não seja frágil mais. É sempre um processo e, mais importante, um vai e vem de confiança, determinação, resiliência e também do ego.
Falo bastante do ego pois é, na minha visão, o que mais nos faz importar com coisas que não são importantes.
Gastamos força mental e tempo deliberando sobre nossas ações passadas, nos julgando e frequentemente nos martirizando porque não agimos da forma como deveríamos ou gostaríamos.
Pensa numa situação:
Você está numa reunião de trabalho e na sua vez de falar você acaba se expressando com um pouco de confusão. As pessoas pedem para você repetir e aí você consegue melhorar um pouco a maneira de falar.
No final das contas, todo mundo ali entendeu o que quis dizer, mas é possível que você fique horas depois tentando te entender porque fez aquela confusão toda ou imaginando o que as outras pessoas pensam sobre você.
No entanto, esse debate interno – por mais que seja comum – é opcional.
Confiar em nós e, mais especificamente, não nos importar tanto com o ego nos vai ajudar a passar por cima desse tipo de situação muito mais facilmente.
O ‘ideal’ talvez seria simplesmente nos acolher de nosso erro, pensar se há algo que poderíamos fazer diferente (como por exemplo dormir melhor na noite anterior) e passar para o próximo item em nossa agenda.
Ficar deliberando sobre situações do passado assim nos limita.
Nos faz perder tempo e também acumula inseguranças.
Faz sentido? Me conta o que pensa nos comentários.
Divirta-se!
Fonte: Andre Lug