No painel sobre pecuária sustentável, realizado nesta segunda-feira (14) na COP27, o drama da regularização socioambiental foi destacado com um dos grandes desafios e também como condição ao avanço da pecuária sustentável no Brasil. Liège Correia, da diretoria de sustentabilidade da JBS/Friboi, disse que têm estados com mais de três anos de fila para regularização ambiental, situação que inviabiliza a atividade.
“É preciso ter dentro do estado as ferramentas para que o produtor regularize, produza e leve essa mensagem para o mundo. Precisamos acelerar e facilitar o acesso à regularização”, defende Liège.
Ao lado das estratégias para mitigação e adaptação da pecuária às práticas sustentáveis, essa foi uma das principais abordagens dos especialistas que participaram do debate no estande do Brasil na Conferência das Nação Unidas para Mudanças Climáticas.
Caio Penido, do Instituto Matogrossense da Carne (Imac), outro painelista, trouxe para o debate o que chamou de “justiça climática”. Ele explicou que “custa dinheiro para preservar e precisamos ser remunerados por isso”. Ao mesmo tempo, segundo Penido, o produtor precisa fazer a lição de casa, “melhorar a gestão e investir na pecuária, como antes se investiu na agricultura, para melhorar a produtividade e conviver com a biodiversidade”.
Cadê os produtores nessas discussões?
O produtor rural e presidente da Liga do Araguaia, Braz Neto, fez um desabado no painel. Disse que as discussões sobre sustentabilidade são feitas distantes da realidade do produtor, que “é impactado de várias formas, espremido de todos os lados e fica confuso com demandas que não param de surgir.”
Segundo Braz Neto, os pecuaristas precisam de apoio, porque junto com a sustentabilidade existem temas como gestão, sucessão e outras questões familiares que são difíceis de implantar. Ele falou ainda sobre capacidade de investimento, onde entende que linhas de financiamento são importantes, mas que o produtor também tem capacidade de investimento. E que o maior gargalo é a dificuldade gerencial para absorver todas as demandas.
Pecuária sustentável: além da regularização ambiental
Nesse sentido, Liège Correia, da JBS/Friboi, entende que é preciso tornar a sustentabilidade atrativa para o produtor. Mostrar que existem problemas, mas que têm oportunidades, que o produtor é resiliente e que a palavra é desafio, não dificuldade. Para isso, “sustentabilidade não deve ser um pilar, um projeto, mas a estratégia”.
De acordo com Liège, também é preciso olhar para os pequenos produtos e assentamentos, que são uma realidade no Brasil. Outra declaração de destaque da representante da JBS no painel foi sobre o mercado de carbono. Segundo ela, carbono não é commodity e, portanto, não é um mercado, mas uma moeda de transição para uma atividade mais sustentável.
Mediadora do painel, Fabiana Villa Alves, diretora de produção sustentável e irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), classifica o tema como amplo e complexo, em um contexto onde é preciso melhorar a comunicação do setor.
“Como sair da bolha, falar para além do setor, para o mercado e para a sociedade?”, indaga Fabiana. Na COP27, ela lembrou das dificuldades e também das inúmeras oportunidades e avanços da pecuária brasileira em um país continental, com seis biomas e uma rígida legislação, ambiente que resumiu em mitigação e adaptação, o que, segundo ela, o Brasil já vêm fazendo, há muito tempo.
__________
Saiba em primeira mão informações sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo. Clique aqui e siga o Canal Rural no Google News.
Fonte: canalrural