Mato Grosso está às vésperas do plantio de mais uma safra de soja. A preocupação recorrente das últimas três temporadas com o apodrecimento dos grãos e quebramento de hastes mais uma vez entra em cena e tira o sono do agricultor. A pesquisa já identificou as possíveis causas do problema, mas ainda precisa de mais prazo para dar respostas conclusivas. Enquanto isso, a palavra de ordem dos especialistas é atenção redobrada no manejo que antecede o plantio e no monitoramento durante o ciclo da cultura para evitar prejuízos.
As projeções para a safra 2023/24 de soja no estado apontam para uma área de 12,2 milhões de hectares. A preocupação maior quanto a anomalia é especialmente nas regiões que registraram maior número de ocorrências em safras anteriores, como Jaciara e Paranatinga.
A anomalia da soja é tema do episódio 101 do Patrulheiro Agro.
Presidente do Sindicato rural de Paranatinga, Carlinhos Rodrigues pontua que “a anomalia foi um grande problema que surgiu” nos últimos anos e que vem ganhando cada vez mais grandes proporções.
“Em municípios atingidos a perda é muito grande. Ela vem devastadora para nós. Então é prejuízo. Nós temos que correr atrás de informações para tentar evitar ao máximo [as perdas]. Há casos em que ela compromete 20%, 30% da variedade ou do talhão, da fazenda”.
Em Jaciara, cerca de 146 quilômetros de Cuiabá, a soja deve ocupar uma área de três mil hectares na propriedade do agricultor Jefferson Schinoca. A área, segundo ele, é 10% menor que na última temporada.
“A gente está entrando na próxima safra sem expectativa nenhuma, sem ajuda para saber o problema que é, porque se tiver o produto certo para fazer o agricultor vai fazer. Ele não vai deixar perder a área dele”, diz Jefferson Schinoca.
Causa e efeito
De acordo com o pesquisador da Universidade de passo fundo (UPF), Erlei Melo Reis, a anomalia da soja é um problema novo e que vem aumentando sobretudo nas últimas safras.
“Nós como pesquisa, como princípio da fitopatologia, nós precisamos trabalhar com relação a causa e efeito. A causa da abertura da vagem está bem distinta na literatura brasileira que é um déficit hídrico com veranico entre 5.2 até R6. Bem no final do R6 adiante, quando retornam as chuvas, fungos saprofíticos, oportunistas com a umidade, colonizam esses grãos. Então, essa é a causa da anomalia e os pesquisadores tem demonstrado que existe uma variabilidade genética então é possível nos campos de melhoramento genético, nessas empresas que assim trabalham, selecionar variedades resistentes”.
Mestre em fitopatologia, Erlei Melo Reis salienta que a quebra da haste também é um problema que não possui origem parasitária.
“Ainda estamos trabalhando, investigando para saber qual é a causa. Mas, provavelmente esteja envolvida com uma falta no melhoramento de não trabalhar na presença da causa”.
O pesquisador comenta que nos últimos dez anos o Ministério da Agricultura lançou cerca de 1,5 mil novas cultivares. Só neste ano foram 240.
Riscos de perdas na soja ainda existem
Mesmo com os avanços na pesquisa sobre a identificação das possíveis causas do patógeno, os especialistas alertam para o risco de perdas de produtividade na safra 2023/24 de soja tanto por quebramento de haste quanto por apodrecimento de grãos. Para evitar o prejuízo, a recomendação é manter a atenção redobrada no manejo que antecede o plantio e no monitoramento durante o ciclo da cultura.
“Esse ano ainda será um ano ainda em que a gente vai entender mais em termos de pesquisa e o produtor pode ainda sofrer um pouco com esse problema na fazenda. Assim como fizemos nessa última safra, é preciso continuar monitorando as nossas áreas, prestar bastante a atenção no que temos disponível, por exemplo, o comportamento de cultivar, de fungicida”, frisa o diretor de pesquisa da Fundação Rio Verde, Fábio Kempim Pittlelkow.
Pesquisador na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, Fernando Cezar Juliatti, frisa que daqui para frente o comportamento do germoplasma brasileiro terá de ser estudado.
“Com certeza nós temos genótipos resistentes e entender a genética dessa resistência para que o melhorista possa, independente da detentora no Brasil ou a própria pesquisa oficial, selecionar esse genótipo mais promissor e logicamente resolver o problema via genética. O químico ele é importante no tratamento de semente ou na pulverização, mas não é ele que vai resolver o problema. É a genética da nossa soja. Temos aí possibilidades de estabelecer programas de melhoramentos, os agentes de seleção e o melhorista trabalhar com tranquilidade e resolver o problema em dois, três anos”.
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Fonte: canalrural