De acordo com a última atualização IRI/CPC/NOAA, os modelos têm apontado para a possibilidade da ocorrência de um El Niño forte a partir do trimestre SON (setembro, outubro e novembro), com intensidade maior que os modelos haviam apontado na atualização anterior. A média dos modelos dinâmicos já apontam para o El Niño forte a partir do trimestre ASO (agosto, setembro e outubro) até o trimestre JFM (janeiro, fevereiro e março), mas seguindo com intensidade moderada até o trimestre FMA (fevereiro, março e abril).
Por outro lado, os modelos estatísticos indicam um fenômeno menos intenso, classificado apenas como moderado entre os trimestres ASO e NDJ (novembro, dezembro e janeiro). Considerando a média de todos os modelos, o fenômeno teria uma intensidade forte a partir do trimestre SON até DJF (dezembro, janeiro e fevereiro), com pico em NDJ (novembro, dezembro janeiro).
Além da intensidade, considerando o modelo de previsão probabilística, o fenômeno deverá se estender até o primeiro trimestre de 2024. A última atualização do modelo probabilístico aponta para 76% de chance do El Niño se estender até o trimestre FMA, 54% de seguir até MAM (março, abril e maio) e de apenas 37% de persistir até o trimestre AMJ (abril, maio e junho). Portanto, a probabilidade de as temperaturas do pacífico voltarem para uma condição neutra é de 59% no trimestre AMJ.
Como já foi apresentado em outros relatórios, a ocorrência do El Niño está associada a um clima com temperaturas acima da média em parte do sudeste e do nordeste brasileiro, atingindo, principalmente, regiões produtoras de café robusta no norte do Espírito e extremos sul do estado da Bahia. Para se ter ideia da importância dessas regiões, em 2022/23, a safra de café robusta destas regiões representou 81,5% da produção nacional de robusta e 28% de toda a produção brasileira.
Considerando os períodos da ocorrência desta condição climatológica e ociclo produtivo de café robusta no Brasil, podemos ressaltar que acontecerá durante períodos cruciais para o desenvolvimento da produção. Tendo em vista a média dos modelos indicam um El Niño forte entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024, durante todo este período, as lavouras brasileiras de café robusta passarão pelos estágios de pegamento, chumbinho, expansão e granação dos frutos; todas estas etapas são críticas e qualquer problema poderia impactar o potencial produtivo de 2024.
A última vez que as lavouras enfrentaram um El Niño foi entre os anos de 2014 e 2016, o que impactou severamente a produção brasileira de café robusta, que, de acordo com dados do USDA, foi de 17 milhões em 2014/15 para 10,5 milhões de sacas em 2016/17, representando uma queda de mais de 38% no período.
Analisando os dados históricos, vale a pena mencionar que as condições apresentadas se assemelham em partes ao observado no segundo semestre de 2015 e início de 2016, quando o El Niño atingiu uma intensidade forte desde o trimestre JJA (junho, julho e agosto) até o trimestre FMA (fevereiro, março e abril). Uma diferença entre o cenário de 2015 é que, além de um período maior com intensidade forte, quando o fenômeno atingiu uma intensidade forte, o El Niño já estava persistindo desde o trimestre SON do ano anterior (2014).
É essencial ressaltar que as condições são bastantes diferentes hoje se comparado com 2015, portanto, os impactos do El Niño nas lavouras de robusta seriam limitadas. Naquela ocasião, o fenômeno durou um longo período, estendendo o período de clima seco e quente nas regiões. Além disso, os produtores tinham menos reservatórios de água disponíveis para irrigação e usavam sistemas menos eficientes. Além disso, durante o pico da crise hídrica, o uso de sistemas de irrigação foi proibido pelo governo em vários municípios produtores, já que a água foi destinada ao uso mais essencial, como o consumo humano.
Apesar de as condições serem diferentes atualmente, o cenário da ocorrência de um El Niño forte durante etapas tão críticas da produção pode ter um impacto negativo no potencial produtivo da próxima temporada. Apesar do uso amplo de sistemas de irrigação, em sua grande maioria de gotejamento, que é mais eficiente no uso da água, esses sistemas não são capazes de aliviar as altas temperaturas e os raios diretos de sol nas copas das plantas.
A despeito da disponibilidade da água no solo, em dias de temperaturas muito altas, a perda de água na copa é maior que a capacidade das raízes da planta de absorver e repor a água perdida. Nesta condição, a planta pode murchar nos períodos muito quentes e isso impactaria negativamente principalmente o período de expansão e enchimento dos frutos, entre os meses de dezembro e fevereiro. Além disso, o sol e o calor excessivo podem queimar parte das folhas e frutos, processo conhecido com escaldadura.
Considerando o cenário presente de restrição na oferta de robusta no mundo, refletindo a menor disponibilidade de café nos países asiáticos, como Vietnã e Indonésia, uma condição de calor excessivo nas regiões produtoras de robusta poderia agravar ainda mais a atual condição e dar suporte aos preços de café robusta, a princípio, mas podendo também favorecer os preços de arábica.
Fonte: portaldoagronegocio